Brasil ainda não está livre do sarampo, diz OPAS
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, país ainda está pendente de verificação para a doença graças à baixa cobertura vacinal
A Comissão Regional de Monitoramento e Verificação da Eliminação do Sarampo, da Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita nas Américas, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), atualizou a classificação dessas doenças em sua terceira reunião realizada em Brasília, entre 14 e 16 de novembro, com o Brasil classificado como pendente de verificação para sarampo, o que significa que é um país que interrompeu a transmissão endêmica do vírus causador dessa doença, mas os dados ainda não são suficientes para verificá-lo novamente como livre de sarampo.
“Tivemos a certificação da eliminação da circulação do sarampo em 2016, mas perdemos esse status em 2018, depois do surto na região norte do país e no sudeste de São Paulo, quando acumulamos mais de 40.000 casos a partir de 2017. Mas temos feito um enorme esforço para eliminar o sarampo de novo e conseguirmos a recertificação”, disse Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm e presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SPB).
Segundo o médico, que também preside a Câmara Técnica do Brasil na OPAS, ainda faltam alguns detalhes em termos de vigilância, detecção de casos suspeitos e melhora de condições de laboratório para investigação para que o Brasil consiga uma nova certificação. “Creio que isso acontecerá em breve, graças ao esforço de todo o Ministério para aumentar as coberturas vacinais e melhorar a vigilância de casos suspeitos”, explicou, acrescentando que ainda é um grande desafio. “Mas que vamos enfrentar para que em 2024 já possamos ser novamente considerados livres do sarampo.”
Além da intensificação da vacinação em locais de alto risco, a Comissão enumerou algumas ações para o combate do sarampo e rubéola no Brasil como a finalização das atividades de micro planejamento no programa de rotina para melhorar os níveis de imunidade da população; a continuidade dos esforços para modernizar os sistemas de informação de imunização e de vigilância baseada em casos; a implementação da ferramenta de avaliação de risco da OPAS; e melhorias na obtenção de suprimentos de laboratório para testes sorológicos e moleculares.
A Comissão realizará uma nova reunião para discutir a possível recertificação do Brasil antes da quarta reunião, prevista para 2024.
Sarampo ameaça quem não tomar a vacina
Desde 2022, os indicadores de vacinação e vigilância de EPV (Eventos Pós-Vacinação) apontam recuperação, se comparados com o período da pandemia da Covid-19. Mas é fato que 2,2 milhões de crianças permanecem não vacinadas ou com o esquema incompleto contra o sarampo, a rubéola e a caxumba, enquanto 1 milhão não recebeu nenhuma dose para DTP1 (contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b).
Além da apresentação desses dados, a terceira reunião da OPAS mostrou os relatórios anuais dos países de 2021 a 2023, que monitoram e reverificam a eliminação do sarampo, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita (SRC) na Região das Américas. “Esses países têm realidades diferentes, mas o compromisso comum de trabalhar arduamente nos Programas de Vacinação para manter a intervenção mais custo efetiva para as todas as populações”, disse Socorro Gross, representante da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil.
Jon Andrus, presidente da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação, reforçou que, além de revisar as evidências país por país, a reunião tem o objetivo de fornecer recomendações para promover avanços e sustentar a eliminação do sarampo e da rubéola. “Como o resto do mundo pode aprender com essas experiências? Precisamos continuar trabalhando juntos para atingirmos as nossas metas”, disse.
Cenário Mundial
No mundo, a situação atual do sarampo e da rubéola aponta 47 países com surtos significativos ou preocupantes de sarampo, concentrados na África, no leste europeu e na Ásia. “É um vírus da desigualdade com a maioria dos casos em países de renda média-baixa”, ressaltou Natasha Crowcroft, da OMS.
Na Região das Américas, os dados de 2023 mostram que apenas três países reportaram casos de sarampo: Estados Unidos, com 41 casos, seguido pelo Canadá, com 8 casos e Chile, com 1 caso. Para a rubéola, foram reportados 91 casos em oito países entre 2010 e 2023, com 17 casos de síndrome de rubéola congênita nos Estados Unidos e Canadá.
O risco para a Região destaca-se pela imunidade populacional, com oito países, incluindo Argentina, Brasil, Colômbia, México e Venezuela, com um número significativo de crianças de um ano sem receber as doses da vacina SRP. A maioria dos países, porém, relatou coberturas entre 80% e 99% para a primeira dose da vacina contra sarampo, rubéola e caxumba, enquanto 10 países alcançaram cobertura igual ou superior a 95%. Nove países, Paraguai, El Salvador, Bolívia, British Virgin Islands, Peru, Equador, Haiti, Granada e Honduras, não atingiram os 80% recomendados de imunização.
Estratégias e avanços no Brasil
O Brasil apresentou dados e ações para interromper a circulação do vírus do sarampo e sustentar a eliminação do vírus da rubéola. O Brasil havia eliminado o sarampo em 2016, mas a baixa cobertura vacinal levou a um surto da doença em algumas regiões do país. Desde então, o Ministério da Saúde, os estados e os municípios brasileiros, em parceria com a OPAS, têm buscado fortalecer e integrar ações de vigilância epidemiológica, laboratório, vacinação, atenção primária, comunicação e mobilização social e comunitária.
Para reverter esse problema de declínio na imunização e alcançar altas coberturas, o país vem implementando ações locais de multivacinação, além de workshops de capacitação para todos os estados brasileiros.
Até agosto de 2023, as coberturas da vacina tríplice viral, contra o sarampo, caxumba e rubéola, em crianças de um ano atingiram 83% na primeira dose e 59% na segunda dose. Estratégias como a Operação Gota no norte e região amazônica resultaram na aplicação de mais de 40 mil doses em populações que vivem em áreas de difícil acesso, quase 60% do total administrado nos últimos quatro anos. A vacinação dos povos indígenas, com mais de 163 mil doses aplicadas em 2023, e a criação do COE Yanomami, responsável por administrar mais de 53 mil doses de vacinas de rotina também foram estratégias adotadas.
“Atualmente, o Brasil não registra nenhum caso de sarampo desde junho de 2022, totalizando 74 semanas sem confirmações. Em termos de financiamento, o país investiu R$ 724,1 milhões em 2023 em Vigilância em Saúde, Laboratórios Estaduais, Imunobiológicos, Capacitação e Imunização, demonstrando um compromisso substancial com a saúde pública”, finalizou Kfouri.