Bets: entenda a frente criada para lidar com problemas de saúde ligados a apostas
Grupo de trabalho será interministerial e terá como foco impactos para a saúde mental de jogo patológico; discussões sobre ações serão realizadas por 60 dias
O governo federal anunciou nesta segunda-feira, 9, a criação de um grupo de trabalho para estabelecer ações e enfrentar problemas de saúde relacionados às bets e demais plataformas de apostas online. A principal preocupação é com os impactos para a saúde mental decorrentes da dependência e mesmo do endividamento dos jogadores. Os membros do Grupo de Trabalho Interministerial de Saúde Mental, Prevenção e Redução de Danos do Jogo Problemático vão fazer reuniões quinzenais ao longo de 60 dias, segundo portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU).
“Desde a legalização das apostas de quota fixa em 2018, a falta de regulamentação clara permitiu a expansão do mercado sem a devida supervisão. Isso gerou impactos negativos, como a exposição de jogadores a práticas abusivas e o aumento de casos de dependência. Ao reconhecer a gravidade da situação, o governo federal decidiu implementar normas mais rígidas para a operação do setor, priorizando a saúde mental dos apostadores”, informa nota da gestão Lula.
A proposta do GT é desenvolver estratégias preventivas, mitigar dados e ofertar suporte aos afetados pelas jogatinas virtuais a partir de discussões realizadas por representantes dos ministérios da Saúde, Fazenda, Esportes e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
“Nossa grande preocupação é preservar a integridade das famílias, proteger as crianças e adolescentes e conscientizar as pessoas de que as apostas esportivas são uma forma de recreação, mas que é um lazer perigoso, pois envolve o risco de perder dinheiro. A saúde mental dos brasileiros é uma preocupação nossa”, disse, em comunicado, Giovanni Rocco, secretário nacional de Apostas Esportivas e de Desenvolvimento Econômico do Esporte.
Segundo o governo, o grupo terá autonomia para “reexaminar ações administrativas e políticas públicas e fazer sugestões de atuação regulatória, ou qualquer outra medida para a redução de danos e enfrentamento do problema”. Campanhas de conscientização e elaboração de programas assistenciais voltados à saúde mental também poderão ser desenvolvidos pela frente interministerial por meio de um plano de ação que envolve:
- Propor estratégias regulatórias e administrativas
- Articular ações com entidades públicas e privadas
- Elaborar diretrizes de assistência à saúde mental e prevenção aos problemas associados às apostas
- Monitorar e identificar perfis de risco entre os apostadores
Problema de saúde pública
Além dos reveses financeiros, em populações vulneráveis e abastadas, as bets têm sido consideradas um problema de saúde pública por seus impactos devastadores, conforme uma série de artigos publicados pela Comissão Lancet em outubro deste ano. Os especialistas classificaram as apostas virtuais como uma ameaça assim como o tabaco e o álcool.
O jogo patológico está relacionado a episódios de ansiedade, depressão e até tentativas de suicídio. As estimativas apontam que, na população em geral, há 2% de jogadores patológicos. Nesse percentual, 15% já tentaram se matar.
Também em outubro, a ministra da Saúde Nísia Trindade afirmou que ações de conscientização sobre o vício em jogos seriam intensificadas pelas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), conhecidas pela capilaridade e relação de confiança com a população.
Mudanças bruscas no comportamento, gastos injustificáveis, rápido endividamento e mentiras são alguns dos sinais de que o hábito de jogar está causando problemas, assim como a necessidade constante de checar os aplicativos e fazer apostas em momentos dedicados ao lazer, em ocasiões especiais ou mesmo durante as refeições e na hora de dormir.