Até que ponto a depressão pode influenciar no risco de demência?
Estudo mostra que em grupos específicos de pacientes deprimidos, as chances de distúrbios mentais aumentam consideravelmente
No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas vivem com alguma forma de demência, e a expectativa é que esse número triplique até 2050, e atinja 150 milhões no mundo, segundo estimativas do projeto Global Burden of Disease. Não existe cura ou tratamento eficaz para a doença, mas identificar maneiras de ajudar a minimizar ou prevenir a demência ajudaria a diminuir sua carga.
O estudo, liderado por Jin-Tai Yu e Wei Cheng, médicos e professores da Universidade Fudan em Xangai, China, usa dados expressivos coletados pelo UK Biobank e analisa a relação entre a demência e a depressão. Ele figura na atual edição da revista Biological Psychiatry, publicada pela Elsevier.
“Indivíduos mais velhos parecem experimentar diferentes padrões de depressão ao longo do tempo”, disse o professor Yu. “Portanto, a variabilidade interindividual nos sintomas pode conferir risco diferente de demência, bem como a heterogeneidade, na eficácia do tratamento da depressão em relação à prevenção dessa doença”.
Para abordar essa diversidade, os pesquisadores classificaram os participantes em um dos quatro cursos de depressão: curso crescente, no qual os sintomas iniciais leves aumentam constantemente; curso decrescente, começando com sintomas de gravidade moderada ou alta, mas subsequentemente diminuindo; curso cronicamente alto, de sintomas depressivos graves contínuos; e curso cronicamente baixo, em que os sintomas depressivos leves ou moderados são mantidos de forma constante.
Como esperado, o estudo descobriu que a depressão elevou o risco de demência – em alarmantes 51% em comparação com participantes não deprimidos. No entanto, o grau de risco dependia do curso da depressão; aqueles com depressão de curso crescente, cronicamente alto ou cronicamente baixo eram mais vulneráveis à demência, enquanto aqueles com curso decrescente não enfrentavam maior risco do que as pessoas sem depressão.
O grupo de Yu e Cheng também questionou se o risco aumentado de demência poderia ser reduzido ao receber tratamento para depressão. No geral, sim. O tratamento reduziu em cerca de 30% o risco de demência, em comparação com os participantes não tratados. Aqueles com cursos de depressão crescentes e cronicamente baixos tiveram menor risco de demência com o tratamento, enquanto aqueles com um curso cronicamente alto não viram benefício do tratamento para o risco de demência.
Isso indica que o tratamento oportuno da depressão é necessário entre aqueles com depressão tardia. “Fornecer tratamento para pessoas com depressão tardia pode não apenas reduzir os sintomas efetivos, como também adiar o início da demência”, acrescentou Cheng.