Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

“Até criei uma coreografia para expressar a doença”

A bailarina carioca Mariana Marques teve um AVC aos 20 anos. Mas, após a reabilitação, já está de volta aos palcos

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h40 - Publicado em 6 jan 2024, 08h00

Depois de dançar por 45 minutos, protagonizando dois solos de dança numa coreografia em homenagem à cultura indígena, todos me disseram que eu estava animada demais na coxia. Rindo e falando alto, algo incomum, pois sou mais contida. Lembro que realmente estava feliz naquela semana. Faltavam cinco dias para o meu aniversário de 21 anos e estava pensando em como iria comemorar. Mas aconteceu algo inesperado naquele domingo. Quando o espetáculo acabou, senti o braço e a perna direita puxando. Achei que poderia ser cansaço e até me apoiei na Renata, a minha coreógrafa. Depois disso, me contaram que eu já não conseguia mais ficar em pé nem falar. Trouxeram uma cadeira e um copo d’água.

Sei que foram os meus pais que me levaram ao hospital. Por insistência, eles foram assistir à apresentação, pois não iriam naquele dia. Já tinham me visto dançar tantas vezes, não seria algo inédito. Não sei o motivo, mas fiz questão da presença deles. Dos primeiros sintomas ao atendimento no hospital, foi menos de uma hora. Tive sorte, atenção e carinho. A assistência foi rápida, ponto fundamental quando estamos lidando com um AVC (acidente vascular cerebral). Ter pessoas que sabiam identificar aqueles sintomas, como fraqueza muscular, paralisia num lado do corpo e dificuldade para falar e caminhar, foi providencial.

Quando acordei, na segunda-feira ,no centro de terapia intensiva, estava confusa. Me lembrava só do final da apresentação de domingo. Foi quando a enfermeira me contou que eu havia tido um AVC isquêmico e passado por um procedimento minimamente invasivo, a trombectomia mecânica, um cateterismo para retirar o coágulo que estava entupindo a circulação no meu cérebro. Conhecia o AVC e seus sintomas por causa do meu avô materno, mas nunca achei que poderia acontecer comigo, e aos 20 anos de idade. Sempre asso­ciei AVC a pessoas mais velhas. Nunca descuidei da minha alimentação e do meu corpo por causa da dança. É a minha paixão desde os 2 anos, quando comecei a frequentar as aulas de balé. Também me formei em jazz e sapateado, inclusive pela escola do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Sempre dancei, estudei e, depois, passei a dar aulas.

Estava num ritmo acelerado? Sim. Mas a minha vida sempre foi assim. Entrando e saindo do transporte público para cumprir horários, ensaios e apresentações. Com a agenda disputada nos fins de semana com amigos, idas à igreja com a família e pouco tempo de sono. Aos 20 e poucos, a gente pensa mais em aproveitar a vida do que em dormir, né? Não sei por que aconteceu comigo. Assim como não sei explicar a presença dos meus pais naquele domingo. E como todos à minha volta tiveram a agilidade, num momento inesperado daqueles, de me levar ao hospital. Fui privilegiada por isso e por ter tido acesso a um tratamento inovador (ele acaba de ser incorporado pelo SUS).

No início, tive dificuldade para falar, mas contei com a ajuda incansável da minha prima fonoaudióloga. Fiz fisioterapia para alinhar o meu andar, as caminhadas, a força muscular. Estou voltando a fazer ponta, uma técnica avançada de balé, trabalhando a coordenação e a consciência corporal. Ainda há algumas coisas a melhorar, mas a maioria das pessoas nem percebe que eu tive um AVC. Continuo dançando, dando aulas e já voltei ao palco algumas vezes. Até criei uma coreografia para expressar a doença: ela lembra uma trilha em que subo por fendas, as fissuras que moldam as pedras, uma analogia aos impactos do AVC na minha vida. Também estudo terapia ocupacional com o intuito de apoiar outros que passam por um problema desses. Nunca tive vergonha do meu AVC. Acredito que é mostrando o que aconteceu comigo que posso ajudar as pessoas a se cuidar melhor.

Continua após a publicidade

Mariana Marques em depoimento dado a Diogo Sponchiato

Publicado em VEJA de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.