Aspirina eleva em 26% chance de insuficiência cardíaca em doentes de risco
Uso do medicamento como prevenção para evitar quadro cardíaco é ineficaz, além de tornar pacientes mais propensos a desenvolver a doença
Um estudo liderado por médicos da Universidade de Leuven, na Bélgica, e publicado nesta quarta-feira 24, na ESC Heart Failure, revista da Sociedade Europeia de Cardiologia, sobre o uso da aspirina para evitar complicações entre pacientes com risco para insuficiência cardíaca apontou que, além do medicamento ser ineficaz para a prevenção, também torna essas pessoas 26% mais propensas a desenvolver a doença.
O levantamento traz uma análise do projeto Homage de acompanhamento clínico, com dados de cardíaco de 46 mil pessoas nos Estados Unidos e na Europa. A pesquisa divulgada hoje utilizou um subgrupo de 30 mil pessoas para investigar o efeito da droga na prevenção desse problema. “O uso de aspirina foi associado com um risco aumentado de insuficiência cardíaca em pacientes recebendo aspirina com ou sem histórico prévio de doença cardiovascular. Na ausência de evidências conclusivas em ensaios clínicos, nossas observações apontam que a aspirina deva ser prescrita com cautela a pacientes sob risco de insuficiência cardíaca ou que já apresentem esse quadro”, escreveram os pesquisadores, sobre o relatório que, durante cinco anos, acompanhou uma população com média de idade de 67 anos, sendo que um quarto deles consume o remédio diariamente, como forma de prevenção.
Embora reconheçam que o trabalho tem base em autodeclarações e não tenha sido revisado por pares, não é a primeira pesquisa a questionar o uso do remédio como tratamento preventivo para cardíacos. Outros estudos já indicaram um pequeno efeito positivo em prevenção, mas pelo menos duas pesquisas mais recentes apontaram o contrário em pacientes com risco para desenvolver o quadro. Este, porém, pode ser o mais preocupante já que incluiu pessoas sem histórico de doença cardíaca.
Mesmo a prescrição já sendo mais cautelosa entre os médicos pela aspirina poder aumentar o risco de hemorragias intestinais e cerebrais em algumas pessoas, surpreendeu o fato do relatório mostrar que sobe o risco de doença cardíaca, ao invés de preveni-la. No Brasil, a preocupação aumenta pelo fato de existir uma cultura popular de automedicação. A Associação Americana de Cardiologia, que antes chegou a recomendar o uso da aspirina como prevenção, também alerta para que o medicamento seja utilizado com cuidado, especialmente em pessoas sem histórico de cardiopatia e com mais de 70 anos, e apenas sob prescrição médica para pacientes que já tiveram infarto ou AVC.