As variantes ‘superpoderosas’ da varíola dos macacos
Segundo estudo, as mutações no vírus fazem com que ele se espalhe rapidamente, evite drogas e vacinas
![Monkeypox, A Member Of The Orthopox Family Of Viruses, Is An Infection Accidentally Transmitted To Humans Due To Its Similarity To The Smallpox Virus. Although Animals Infected With Monkeypox Exhibit No Symptoms, Infected Humans Manifest High Fever Accompanied By Headaches, Cervical And Inguinal Adenopathy, And Cutaneous Lesions That Are Similar To Those That Characterize A Smallpox Infection. As With Smallpox, No Effective Medical Treatment Has Been Identified. Here, The Arms And Legs Of A 4 Year Old Girl Infected With Monkeypox. Bondua, Grand Gedeh County, Liberia. (Photo By BSIP/UIG Via Getty Images)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/07/GettyImages-151056898.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Em 2022, cerca de 80.000 casos de varíola dos macacos foram relatados em 109 países, resultando em 36 mortes. Para a maioria desses países, o surto deste ano foi o primeiro registrado pois, semelhante à Covid-19, mutações permitiram que o vírus se tornasse mais forte e inteligente, ultrapassando barreiras sanitárias, medicamentos antivirais e vacinas.
Agora, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Missouri identificou quais são essas modificações específicas no vírus monkeypox, que contribuem para sua perseverança. “Ao fazer uma análise temporal, pudemos ver como o vírus evoluiu ao longo do tempo, e uma descoberta importante foi que o vírus agora está acumulando mutações especificamente onde as drogas e os anticorpos das vacinas devem se ligar”, disse Shrikesh Sachdev, autora e membro da equipe que analisou as sequências de DNA de mais de 200 cepas de varíola dos macacos, que baseiam a investigação. “Então, o vírus está ficando mais inteligente, é capaz de evitar ser alvo de drogas ou anticorpos da resposta imune do nosso corpo e continuar a se espalhar para mais pessoas”.
Os primeiros surtos da varíola dos macacos ocorreram na década de 60. Desde então, o vírus vem evoluindo, infectando várias pessoas no caminho. O sequenciamento das cepas dos vírus é importante porque podem levar a versões adaptadas de medicamentos existentes usados no combate à monkeypox ou o desenvolvimento de novos, que respondam às mutações atuais.
Vírus decodificado
Kamlendra Singh, virologista professora da Faculdade de Medicina Veterinária da universidade, explica que a homologia, ou estrutura, do vírus da varíola dos macacos é muito semelhante ao vírus vaccinia, que tem sido usado no imunizante para tratar a varíola. Isso permitiu a criação de um modelo de computador 3D, que mapeou as proteínas do vírus da varíola dos macacos, as mutações específicas em que estão localizadas e quais são suas contribuições para o vírus ter se tornado tão infeccioso recentemente.
“Quando eles me enviaram os dados, vi que as mutações estavam ocorrendo em pontos críticos que impactavam a ligação do genoma do DNA, bem como onde drogas e anticorpos induzidos por vacinas deveriam se ligar”, disse Singh. “Esses fatores certamente estão contribuindo para o aumento da infectividade do vírus. Este trabalho é importante porque o primeiro passo para resolver um problema é identificar onde o problema está ocorrendo especificamente em primeiro lugar, e é um esforço de equipe.”
Casos caindo
Apesar das novas mutações, no final de agosto, o número de novas infecções começou a diminuir em todo o mundo, e a tendência continua até hoje. Os novos casos de monkeypox na última semana de outubro foram de 1.295, uma queda de 41% em relação à semana anterior, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para colocar esse número em perspectiva, o número de novos casos semanais relatados globalmente foi de 7.477 durante o pico do surto no início de agosto.