Ângulo perfeito
Tendência no Brasil, a cirurgia no queixo deixa o rosto com aparência mais fina. É popular entre mulheres que buscam a foto perfeita para as redes sociais

Na era das selfies e dos filtros digitais, que, como num passe de mágica, deixam a pele brilhante, o nariz mais fino e até alteram as proporções do rosto, a vontade de imitar na vida real os resultados vistos na tela leva as mulheres a buscar a aparência perfeita nos consultórios dos cirurgiões plásticos. Depois de operações para alterar o formato do nariz ou para reduzir as bochechas, o desejo de uma face harmônica e simétrica chega ao queixo. A região, agora, virou protagonista. A mentoplastia, nome técnico que se dá ao procedimento, remodela o mento para deixar a face proporcional. “As pacientes chegam descontentes com o formato arredondado do rosto. O procedimento o deixa mais fino e alongado”, diz Eduardo Kanashiro, cirurgião plástico da Clínica Due.

Vê-se o resultado da mentoplastia em mulheres lindas, que aparentemente nada teriam a corrigir e que agora desfilam com um rosto mais comprido. A lista já é robusta: começa com a cantora brasileira Anitta e passa pela americana Taylor Swift. Ainda que a busca seja majoritariamente feminina, a mudança é almejada também pelos homens, só que com efeito contrário. Eles querem rosto mais quadrado ou um “superqueixo”, atributo associado a força, masculinidade e confiança. No Brasil, os queixos mais pedidos pelas brasileiras ao cirurgião são o da cantora Selena Gomez e o da atriz global Bruna Marquezine. Aqui, aliás, estima-se entre os especialistas que a procura por esse tipo de procedimento tenha aumentado 70% no último ano. Diz o cirurgião Níveo Steffen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica: “É importante que o planejamento esteja de acordo com a estética do próprio paciente e não seja apenas baseado em seus desejos e sonhos”.
A operação consiste em aumentar ou reduzir o queixo, a depender do biotipo de cada um. O procedimento é simples. Feito com anestesia local, tem duração de trinta minutos. Na técnica mais popular, insere-se uma prótese de silicone na base do queixo (veja o quadro ao lado). O resultado é uma projeção que varia de 3 a 9 milímetros. Como em qualquer cirurgia, também existe algum risco. O local é rico em nervos motores e sensitivos. Pode ocorrer uma lesão em estruturas do nervo da face, resultando em perda de sensibilidade e até dos movimentos da região.
Já há procedimentos minimamente invasivos capazes de alterar o formato e o tamanho do queixo sem o uso de bisturi. Nesse caso, pode ser efetuado um enxerto de gordura retirada do próprio paciente, com resultados permanentes. Além disso, é possível também fazer aplicação de ácido hialurônico. Presente no organismo, o composto é uma molécula que preserva a elasticidade da pele. A versão sintética, produzida em laboratório, é muito semelhante à natural. Seu efeito, no entanto, mostra-se temporário — dura, em média, um ano.

Não é exagero dizer que os cirurgiões fazem cálculos de trigonometria para alterar o mento e chegar ao novo contorno facial. Desde a Grécia antiga, um poderoso conceito fez nascer obras-primas da pintura, da arquitetura e da música — o de harmonia. Platão, o primeiro filósofo a tratar do assunto, dizia que “o belo é tudo aquilo em que as partes se agrupam de modo coerente para compor a harmonia do conjunto”. Na mentoplastia, tem-se como objetivo equilibrar os traços da fisionomia do paciente, mantendo suas características individuais. A proporção mais importante a estabelecer é a do nariz em relação ao queixo, ou vice-versa. O queixo faz parte do terço inferior da face. O nariz, do terço médio. É importante que toda as três partes tenham medidas semelhantes para que haja uma proporção adequada. Por isso, frequentemente, o cirurgião recomenda a associação da mentoplastia com a rinoplastia, visando a um melhor equilíbrio estético do rosto.
Para os gregos, a ideia de equilíbrio era matemática. Eles caminhavam pelas leis da chamada razão áurea — quando a perfeição estética está na relação geométrica. Enquanto os antigos utilizavam réguas para definir proporções estéticas, hoje se usam bisturis e agulhas. Segundo uma pesquisa da Academia Americana de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva, em 2017, 55% dos cirurgiões plásticos disseram que suas pacientes optaram pela operação para sair melhor nas selfies. Seja para alcançar a proporção grega ou para ficar belo nas redes sociais, a busca pela beleza natural, mesmo que com estratégias artificiais, só aumenta — e tudo indica que chegou para ficar.
Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

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