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Amputações e doença renal: as complicações do diabetes além do coração

Um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, a doença também pode provocar outras complicações graves

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 nov 2023, 08h56 - Publicado em 23 nov 2023, 14h52

A diabetes, condição provocada por problemas na produção ou na absorção de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que auxilia nos processos de quebra da glicose e permite que tenhamos energia para manter o corpo funcionando, é uma das doenças crônicas mais prevalentes do planeta: atualmente, estimam-se 420 milhões de adultos vivendo com essa síndrome metabólica no mundo.

É também uma das condições que mais atingem os brasileiros – atualmente são 13 milhões de pessoas, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, com o país ocupando a sexta posição no ranking das nações com maior incidência de diabetes mellitus e na liderança entre os países da América do Sul e Central.

Além da hiperglicemia, a diabetes é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares como infartos, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e entupimentos das artérias, principalmente das pernas e pés e pode colaborar na formação de aneurismas.

Quase 7 mil amputações

Mas além dos problemas cardiovasculares, existem ainda várias outras complicações que podem ser ocasionadas pela diabetes. Uma das mais graves é a amputação de pés e membros inferiores. De acordo com dados do Ministério da Saúde, só neste ano, de janeiro a agosto, foram registradas no Brasil 6.982 amputações, o que equivale a 28 por dia.

“As estatísticas e projeções acerca da diabetes são alarmantes e há um agravante: o número de diabéticos deve ser bem maior, já que por ser uma doença silenciosa, muita gente tem o problema e não sabe”, alerta Luiz Carlos Ribeiro Lara, presidente da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé).

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Segundo o especialista, estima-se que em cada cinco pacientes diabéticos, um não tem o diagnóstico e só descobre após uma complicação causada pela doença. “Entre todas elas, o pé diabético é considerado um problema grave e com consequências, muitas vezes, devastadoras em razão das úlceras, que podem implicar em amputação de dedos, pés ou pernas”, ressalta.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, em todo o ano de 2019, na pré-pandemia, foram contabilizados 8.600 registros, passando para 9.279, em 2020 (+ 7,8%). Em 2021, foram 9.781 amputações e, no ano passado, 10.168 (+ 3,9%). De acordo com estimativas publicadas na revista científica Lancet, o mundo deverá ter 1,3 bilhão de pessoas com a doença até 2050.

No caso das amputações, o cirurgião explica ainda que uma das lesões que a diabetes causa é a neuropatia periférica, em que há perda da função dos nervos do pé, principalmente da sensibilidade dolorosa e tátil, que conferem proteção, dificultando a percepção do paciente em notar lesões ou feridas. “Sem a sensibilidade, as possíveis lesões podem evoluir rapidamente e formar bolhas e feridas abertas (úlceras), possibilitando assim a entrada de microorganismos e causar uma infecção no pé”, explica, acrescentando que em casos graves, é necessária a cirurgia para limpeza e desbridamento das lesões mais profundas ou até mesmo a amputação de dedos ou parte do pé para sanar a infecção. “Dependendo da gravidade, o tratamento pode ser imobilização por gesso, órtese ou até mesmo cirurgia reconstrutiva.”

Nas situações de infecção grave, a pessoa pode apresentar mal-estar geral e febre, e em outras vezes, pode manifestar-se apenas com o aumento das taxas de açúcar no sangue “Normalmente, nota-se abcesso, secreção purulenta, mau cheiro, área inchada e avermelhada, às vezes com áreas de necrose de tecidos. Chegar a esse ponto é muito preocupante, pois pode ser necessária a amputação para resolução do problema”, pontua o especialista.

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Para evitar tal complicação, Lara recomenda o paciente diabético a tomar alguns cuidados como evitar andar descalço, usar meias de algodão sempre que possível e realizar um autoexame em busca de calos, úlceras, micoses e rachaduras, além de mantê-los hidratados para evitar rachaduras cutâneas e infecções secundárias. “Nunca tente retirar calos, limpar úlceras ou cortar as unhas sozinho. Identificando algo fora do normal, um especialista deve ser consultado”, conclui.

Complicações renais

Outra complicação da diabetes é a doença renal crônica (DRC), que silenciosamente lesiona os rins, podendo culminar na falência total dos órgãos, ou seja, a perda de 85% da capacidade de funcionamento. Quando isso ocorre, a vida é mantida pela terapia chamada diálise, até que se possa realizar um transplante.

No Brasil, cerca de 150 mil pessoas estão submetidas a tratamento de diálise, um aumento de mais de 100% nos últimos 10 anos. E dessas, uma em cada dez pessoas, com idades entre 20 e 79 anos, sofre de diabetes, segundo dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF 2021).

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“Em uma primeira fase os rins são afetados pelo aumento da glicose do sangue que gera uma hiperfiltração e aumento das pressões dentro do rim, que aos poucos vai comprometendo a barreira de filtração e os vasos renais. Assim, eles passam a deixar passar proteínas que agravam a lesão e progressivamente vão levando a complicações de hipertensão arterial e insuficiência renal”, ressalta Lecticia Jorge, nefrologista da Fresenius Medical Care.

O diabético também é mais propenso à desidratação, a infecções e ao desenvolvimento de cetoacidose – estado grave no qual o corpo produz ácidos sanguíneos em excesso, o que o deixa mais predisposto à insuficiência renal aguda. “Mas é importante lembrar também que a maior parte das pessoas com diabetes não desenvolvem a insuficiência renal crônica. Tem que se cuidar, porque ninguém sabe quem vai desenvolver, o risco existe para todos os diabéticos”, pontua a médica.

Entre os sintomas mais comuns da diabetes estão o aumento e a frequência do volume urinário, sede exagerada e visão turva. “Alimentos com alto índice glicêmico, ou seja, que geram picos de glicose no sangue, como farinhas brancas, batata e açúcar refinado são responsáveis por jogar grandes quantidades de glicose no sangue”, explica Lecticia. “Com isso, geram a necessidade de uma liberação rápida de muita insulina para colocar esse excesso de glicose para dentro das células e que, muitas vezes, será convertido em gordura.”

A doença renal crônica é controlada com medicamentos, mas se atinge a fase 5 da doença, os pacientes devem fazer a diálise, e quando possível, um transplante de rim. “A glicemia, quando mal controlada, aumenta o risco de morte até mesmo nos pacientes que já estão em diálise. O controle rigoroso da diabetes é essencial para prevenir danos aos rins e outras complicações. Medir regularmente os níveis de glicose no sangue, manter uma dieta saudável e ativa, e seguir o plano de tratamento são passos cruciais”, finaliza a nefrologista.

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Conscientização

Vale lembrar que no mês de novembro se intensificam as ações de conscientização sobre o reflexo da diabetes na saúde e mortalidade da população, com o dia 14 marcado como o Dia Mundial do Diabetes, criado em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e a Organização Mundial de Saúde (OMS).

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