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Alucinação, delírio, paranoia: saiba como a psiquiatria define sintomas alegados por Bolsonaro

Ex-presidente tentou abrir tornozeleira após relatar ter "ouvido vozes"; equipe médica citou interação de remédios, mas especialistas consideram efeito incomum

Por Victória Ribeiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 nov 2025, 17h10 - Publicado em 24 nov 2025, 14h30

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso preventivamente em regime fechado no último sábado, 22, acusado de tentar violar a tornozeleira eletrônica com a qual era monitorado em sua residência, em Brasília. Na audiência de custódia, o político alegou ter vivido uma “alucinação“ e “certa paranoia”, que o teriam levado a usar um ferro de solda para abrir o dispositivo, após supostamente ouvir vozes vindas da tornozeleira.

Segundo o psiquiatra Daniel Barros, do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq/USP), a descrição de Bolsonaro envolve conceitos distintos, que podem ou não coexistir. Ele explica que alucinação ocorre quando a pessoa percebe algo que não existe — uma voz, um som, uma figura —, caracterizando uma falha na percepção sensorial. Já a paranoia é uma alteração do pensamento, marcada por crenças infundadas, geralmente persecutórias, como sentir-se monitorado, filmado ou alvo de conspiração.

É nesse terreno que surge o delírio, categoria mais ampla para essas alterações. “O delírio é uma crença que não tem relação com a realidade. A pessoa acredita de forma muito intensa, mesmo quando todos os dados objetivos mostram o contrário”, afirma Barros. Essas crenças podem ser extravagantes — “achar que marcianos estão invadindo a Terra” — ou aparentemente banais, mas igualmente desconectadas do mundo real. “A paranoia é um tipo específico de delírio: o delírio de perseguição.”

Nessas condições, comportamentos como tentar abrir um dispositivo de monitoramento para verificar se há escuta podem ocorrer. “Se a pessoa realmente acredita que está sendo gravada, ela pode tomar medidas concretas para ‘confirmar’ essa perseguição. Não é impossível dentro de um quadro delirante”, diz o psiquiatra.

Por outro lado, ele considera pouco plausível que esse tipo de pensamento surja de forma abrupta. Quadros delirantes, afirma, costumam estar ligados a transtornos que rompem com a realidade — como esquizofrenia, transtornos do humor em suas formas graves (bipolaridade ou depressão psicótica) ou mesmo uso de drogas. Em outras palavras, dificilmente um episódio desse tipo aparece do nada: geralmente há outros sinais compatíveis com esses transtornos e, muitas vezes, episódios semelhantes ao longo da história clínica.

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Mistura de medicamentos

Ainda na audiência de custódia, Bolsonaro, que estava preso em regime domiciliar desde agosto, atribuiu sua atitude aos remédios que estava tomando: pregabalina, um anticonvulsivante também usado no tratamento da ansiedade, e sertralina, um antidepressivo. A equipe médica mencionou ainda a possibilidade de interação com outros medicamentos que ele utilizava previamente para crises de soluço, como gabapentina e clorpromazina.

A suspeita maior recaiu sobre a pregabalina, já que o ex-presidente afirmou ter iniciado o uso “cerca de quatro dias antes” do episódio e não ter vivido nada semelhante antes disso.

Barros, porém, descarta que esse tipo de alteração do pensamento possa ter sido provocado pelas medicações citadas. “A sertralina é antidepressiva, não tem esses efeitos. A pregabalina pode deixar a pessoa sonolenta ou levemente confusa, mas não produz um pensamento delirante estruturado”, afirma. Segundo ele, mesmo a interação com gabapentina ou clorpromazina não sustentaria um quadro desse tipo.

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O psiquiatra do IPq também relativiza a hipótese de que estresse ou privação de sono tenham desencadeado o episódio. Para que isso ocorra, explica, seria necessário um grau extremo e contínuo de estresse. “Tem que ser algo muito intenso, como situações de tortura, em que a pessoa é impedida de dormir. Mesmo em cenários estressantes, como uma prisão, não é comum ver um quadro delirante surgindo apenas por isso.”

Ele acrescenta que dor crônica ou outras doenças clínicas, em geral, também não explicam o surgimento de quadros delirantes, exceto quando afetam diretamente o funcionamento do cérebro. Nesses casos, porém, os sintomas costumam vir acompanhados de outras alterações neurológicas ou comportamentais. Já com relação ao tratamento, Barros destaca que o manejo de quadros como alucinações e paranoia depende da causa subjacente. “Quando há uma doença de base, trata-se a condição principal. De forma geral, quadros delirantes são manejados com antipsicóticos”, diz.

Médicos alteram medicações

A equipe médica de Bolsonaro informou que o medicamento que supostamente teria causado quadro de confusão mental no ex-presidente foi suspenso. No boletim assinado pelo cirurgião geral Claudio Birolini e pelo cardiologista Leandro Echenique, os médicos afirmam que a medicação havia sido prescrita por outra profissional, com o objetivo de otimizar o tratamento, mas sem o conhecimento ou consentimento da equipe.

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“O medicamento foi suspenso imediatamente, sem sintomas residuais neste momento. Foram realizados os ajustes necessários na medicação, restabelecendo a orientação anterior”, dizem.

Os médicos relatam ainda que Bolsonaro “encontra-se estável do ponto de vista clínico e passou a noite sem intercorrências”, e afirmam que seguirão acompanhando a evolução clínica do ex-presidente com reavaliações periódicas.

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