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Afinal, grávidas e lactantes podem se vacinar contra a Covid-19?

Falta de estudos específicos nestes grupos dificulta recomendações precisas e gera desconfiança

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 fev 2021, 12h29 - Publicado em 22 fev 2021, 12h21

Gestantes correm maior risco de desenvolver quadros graves de Covid-19 em comparação com mulheres da mesma idade que não estão grávidas. A doença também está associada a um risco aumentado de parto prematuro. Dessa forma, parece lógico que este grupo receba a vacina e até mesmo, seja incluído entre os grupos prioritários. Mas por que isso não acontece? “Parte da polêmica é fruto de desconhecimento”, diz o ginecologista e obstetra Maurício Abrão, professor associado de ginecologia da USP e chefe do setor avançado de ginecologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Gestantes e lactantes não foram incluídas nos estudos clínicos que avaliaram a segurança e eficácia de vacinas contra a Covid-19. O principal motivo para a exclusão dessas mulheres foram as incertezas sobre os resultados do produto e possíveis efeitos no desenvolvimento fetal e na saúde da gestante. “Na velocidade de desenvolvimento das vacinas contra o novo coronavírus, é mais do que natural ter essa cautela”, afirma Abrão. Segundo ele, historicamente mulheres grávidas não têm indicação para participarem de estudos clínicos de vacinas. A decisão segue preceitos bioéticos porque isso expõe tanto a mãe quanto o feto. O problema é que essa abordagem também as exclui dos benefícios de novas vacinas, quando elas são aprovadas.

Estudo publicado no final de janeiro no Jama Pediatrics mostrou que mulheres que foram infectadas com pelo novo coronavírus na gravidez transmitiram anticorpos aos fetos, mas não a doença. De acordo com os pesquisadores, em nenhum caso foi detectado IgM (um tipo de anticorpo de curto prazo) no cordão umbilical, o que seria um indicador da infecção. Por outro lado, foi detectado igG, indicando imunização vertical. “O estudo abre a discussão para os efeitos benéficos da vacinação para o Covid-19 na gestação, que teria um objetivo muito semelhante ao que fazemos com a coqueluche, uma vacina que é recomendada na gravidez”, diz o especialista em reprodução humana Rodrigo Rosa, diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.

Israel, que aplica a vacina da Pfizer, incluiu mulheres grávidas entre no grupo de acesso prioritário às vacinas contra a Covid-19. Autoridades locais de saúde não veem risco do imunizante para as mães e os fetos e acreditam que a doença é mais prejudicial.

O que dizem as recomendações

Recentemente, dez entidades latinas de Reprodução Humana emitiram um comunicado ressaltando os benefícios da vacinação de gestantes. Segundo o texto, a vacinação tem efetividade e não induz a risco aumentado de contrair a infecção por Covid-19. “Embora ainda não existam estudos humanos de longo prazo sobre a vacinação contra Covid-19 e gravidez, nenhuma das vacinas contém vírus Sars-Cov-2 vivo”, diz o texto.

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As orientações emitidas até o momento por autoridades de saúde sobre o tópico são limitadas, muitas vezes, deixando a responsabilidade ao médico que atende a paciente. No Brasil, por exemplo, a bula da vacina Oxford-AstraZeneca não recomenda o uso durante a gravidez porque “os estudos de toxicidade reprodutiva animal não foram concluídos”. Já a bula da CoronaVac orienta que a vacina só deve ser utilizada por mulheres grávidas mediante orientação de um profissional de saúde.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que gestantes em alto risco de contágio, como profissionais de saúde, podem tomar as vacinas de Oxford, da Pfizer e da Moderna, pois os benefícios podem superar os riscos neste caso. Ainda não há recomendação sobre outros imunizantes.

Abrão explica que até a publicação dos resultados de estudos em gestantes, que já estão em andamento, a avaliação de risco-benefício da recomendação de uso de vacinas contra a Covid-19 por gestantes deve considerar os seguintes pontos: a tecnologia utilizada na produção da vacina, as recomendações do fabricante, recomendações das autoridades médicas regionais, nível de potencial contaminação comunidade em que essas mulheres estão inseridas, quadro de saúde da mulher, o risco e a potencial gravidade da doença caso a mãe seja contaminada, a decisão e vontade da paciente após todos os esclarecimentos.

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Em relação à tecnologia utilizada, sabe-se que vacinas em geral produzidas a partir de vírus inativo, como a do Instituto Butantan, ou vetor viral não replicante, como a de Oxford e da Janssen, são consideradas seguras para mãe e feto. Já aquelas produzidas a partir de vírus atenuado são parcialmente contra indicadas e a nova tecnologia de mRNA, utilizada nos imunizantes da Moderna e da Pfizer, promete ser mais segura, porém ainda não há dados em gestantes.

Amamentação

Em relação às lactantes, as orientações são mais liberais. Um estudo mais recente, feito pela Universidade de Rochester em Nova York ,concluiu que mães infectadas que amamentam não passam o vírus para seus bebês. Por outro lado, os bebês recebem anticorpos transmitidos pelo leite que podem neutralizar o vírus.

Embora também não existam estudos neste grupo específico, as bulas brasileiras, de ambas as vacinas, não contraindicam a aplicação do imunizante neste grupo. A OMS diz que “é improvável que [a vacina] represente um risco para a criança que amamenta” e recomenda que mulheres em lactação que fazem parte de um grupo recomendado para vacinação, por exemplo, profissionais de saúde, devem ser vacinadas. A organização também não recomenda a interrupção da amamentação após a vacinação.

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