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‘A OMS salva vidas e é indispensável no mundo’, diz representante de aliança global

Presidente da Aliança para Vacinas (Gavi), José Manuel Barroso fala a VEJA sobre 25 anos da entidade, pandemias e desafios para a saúde

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 Maio 2025, 19h00

Há 25 anos, um grupo de parceiros em prol da vacinação, incluindo a Fundação Gates, resolveu se unir para elevar as coberturas vacinais em países em vulnerabilidade econômica a partir de ações com farmacêuticas para baratear o preço dos imunizantes. Nascia assim a
Aliança Global para Vacinas e Imunização, atualmente conhecida apenas como Gavi, a Aliança para Vacinas. Neste período, 18,8 milhões de vidas foram salvas com a proteção contra doenças preveníveis por vacinas. A mobilização mais desafiadora, sem sombra de dúvidas, foi na distribuição de doses durante a pandemia de covid-19, a mais grave crise de saúde pública deste século.

VEJA conversou por vídeo com José Manuel Barroso, presidente do Conselho da Gavi, sobre a importância da vacinação, o problema das fake news e os anúncios recentes de saída dos Estados Unidos e da Argentina da Organização Mundial da Saúde (OMS), que também estão revendo protocolos de vacinação que já se comprovaram eficazes para evitar doenças que podem matar.

“A OMS salva vidas. É uma organização indispensável no mundo, que define políticas públicas”, declarou, sem fazer críticas diretas aos países que têm atacado a entidade.

Ex-primeiro ministro de Portugal (2002-2004) e ex-presidente da Comissão Europeia (2004-2014), Barroso recebeu o Nobel da Paz em 2012 em nome da União Europeia e falou ainda sobre o impacto das guerras e da crise climática para a saúde global, relembrando a importância de o tema ser debatido no Brasil durante a COP-30, que será realizada em Belém (PA) em novembro.

Nesta semana, a Gavi e o Ministério da Saúde reforçaram um acordo de cooperação para fortalecer a produção nacional de vacinas, a expansão de imunização com foco em doenças sensíveis ao clima e o suporte ao país como líder para colaboração aos países da América Latina e África. A Gavi é uma das compradoras da vacina contra a febre amarela de Bio-Manguinhos para fornecimento a nações menos favorecidas. Leia os principais trechos da entrevista.

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Apesar das evidências científicas sobre a eficácia das vacinas, estamos acompanhando a queda de coberturas vacinais e até mortes por doenças preveníveis por vacinação, caso do sarampo. Como o senhor avalia esse cenário? Quando vemos qualquer morte causada por uma doença evitável por vacinação, ficamos preocupados e lamentamos. Estamos preocupados e temos de reiterar o dado irrefutável de que a vacinação salva vidas. O sarampo, por exemplo, já tem uma rotina de vacinação há décadas e salva vidas. Desde a fundação da Gavi, há 25 anos, vacinamos 1,1 bilhão de crianças e conseguimos salvar 18,8 milhões de vidas, porque sabemos que, em locais onde a imunização não foi feita, as crianças morreram. Temos de reafirmar a necessidade de as autoridades apoiarem a vacinação.

E quais são os impactos das fake news sobre as vacinas? A única forma de combater a mentira é com a verdade, mas as campanhas orquestradas nos preocupam. Temos de ter estratégias delineadas para os diferentes meios. Há situações desse obscurantismo cultural nos países mais desenvolvidos do mundo e nos países muito pobres. Nós temos de recorrer a pessoas que tenham credibilidade com as populações: os cientistas mais respeitados, líderes tradicionais e até líderes religiosos que possam convencer as populações sobre a necessidade de vacinar as crianças. Portanto, é um combate permanente e só se pode ganhar por meio de mais informação, mas temos consciência clara de que esse é um dos desafios mais importantes que enfrentamos.

Quais são os demais desafios? O principal desafio é sempre a falta de equidade, como vimos na pandemia. Os países mais ricos conseguiam fazer contratos para ter a vacina, alguns comprando quatro ou cinco vezes mais do que necessitavam pela incerteza sobre quais eram os melhores imunizantes, enquanto países em vias de desenvolvimento e mais vulneráveis não tinham financiamento para a compra. Há um problema de desigualdade evidente ainda que o acesso tenha sido mais rápido do que pandemias passadas. Em tempo recorde, a Gavi fez contratos com companhias farmacêuticas para financiar e distribuir vacinas na África. Uma das lições a tirar é ter financiamento preparado e em estoque para evitar desigualdade, por isso, propusemos um fundo para que, logo que seja declarada uma pandemia, ele seja deflagrado. 

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Como o senhor vê a situação do anúncio de saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde, que acabou inspirando a mesma decisão pela Argentina? Quais são os riscos para o mundo de medidas como essa? Bom, eu não vou entrar em críticas a países individualmente, mas a OMS salva vidas, é uma organização indispensável no mundo. Ela ajuda muito a definir as políticas públicas em termos de saúde. Aliás, a OMS é, por excelência, a organização internacional responsável pela saúde. Estamos muito empenhados no futuro dela.

O mundo está vivendo conflitos simultâneos e, com as guerras, vemos a movimentação em massa de populações. Quais são os impactos desse problema para o aumento do risco de infecção por doenças preveníveis por vacinas? Sabemos que aumenta muito o desafio e o perigo não só para a vacinação ou não das pessoas, mas para a sobrevivência delas no imediato. Mesmo na situação terrível do conflito entre Israel e Gaza, houve uma exceção, uma pequena trégua para permitir a vacinação contra a poliomielite. Bom, não é que estejamos satisfeitos com isso, mas, pelo menos, houve o reconhecimento dessa dificuldade. Há muitas outras zonas de conflito no mundo, desde o Sudão à Ucrânia. Há outras zonas onde é muito difícil chegar às populações, por isso, temos um programa especial que tem sido implementado em cooperação com o Comitê Internacional de Resgate (International Rescue Committee), que é precisamente dirigido para zonas de grave situação do ponto de vista humanitário. 

Mesmo com os altos e baixos dos últimos anos, o Brasil é uma referência mundial no que diz respeito à vacinação. Como é a relação da Gavi com o país? O Brasil tem sido um grande parceiro, é um produtor importante de vacinas. Já visitei o Instituto Butantan e a Fiocruz, somos um dos principais compradores de vacina contra a febre amarela. É um país que tem tecnologia e importância na luta contra pandemias por já ter tradição vacinal e uma grande capilaridade do sistema de saúde. Se me permite uma referência especial agora, é sobre a questão das alterações climáticas e do ambiente.

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Por favor, fique à vontade! O Brasil vai realizar a COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) neste ano. É uma conferência importante e que vem em um momento difícil. Temos cada vez mais casos de pandemias determinadas pelas mudanças climáticas, a dengue é um exemplo disso. Algumas transformações que estamos a ver no meio ambiente estão a favorecer doenças que são relacionadas com o clima. Não só a disseminação, mas o aparecimento de doenças. Esperamos e estamos em contato com as autoridades do Brasil para que as questões de saúde pública e vacinação figurem com prioridade na pauta dessa reunião.

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