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2,4 milhões de brasileiros têm autismo: epidemia, moda ou maior acesso à informação?

Censo do IBGE indica maior prevalência no sexo masculino. Com o boom do tema nas redes e consultórios, especialista discute aumento no diagnóstico

Por Lucelmo Lacerda*
Atualizado em 23 Maio 2025, 11h47 - Publicado em 23 Maio 2025, 11h46

Acaba de ser publicado o recorte do Censo Demográfico de 2022 sobre a população brasileira que convive com o autismo. Segundo a análise do IBGE, existem 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA) no país – o que equivale a 1,2% da população.

Os homens representam a maioria desse público (1,4 milhão ante 1 milhão de mulheres), que recebeu um diagnóstico de algum profissional de saúde. Por faixa etária, a maior prevalência concentrou-se entre crianças de 5 a 9 anos. 

A impressão que se tem é que há um número crescente de diagnósticos de autismo, e isso não se restringe ao Brasil. Os índices nos Estados Unidos aumentaram enormemente, passando de 1 a cada 150 crianças em 2022 para 1 a cada 31 em 2025.

Nesse cenário, também temos crianças e adolescentes com comportamentos fora da curva, que no passado sequer seriam encaminhados a profissionais, mas que hoje são diagnosticados com TEA.

Pensando no caso dos adultos, muitas pessoas que passaram toda a vida sem qualquer diagnóstico ou ainda eram classificadas como depressivas ou ansiosas agora são reconhecidas tardiamente como parte do espectro autista.

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Mas será que esse aumento de casos significa que estamos “diagnosticando todo mundo” como se tem dito?

Inicialmente, é preciso destacar que não há questionamentos sobre o diagnóstico dos casos de TEA nível 2 e nível 3, que são aqueles que apresentam um maior comprometimento, com indivíduos muitas vezes não-verbais ou minimamente verbais, com prejuízos significativos e evidentes.

O questionamento se concentra na faixa do autismo nível 1, formada por indivíduos sem prejuízo de linguagem e com inteligência preservada, muitos dos quais receberam um diagnóstico tardio. Justamente naqueles em que o TEA fica praticamente invisível.

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Para entender se há ou não um exagero de diagnósticos, temos que dar um passo atrás para refletir sobre o que é um diagnóstico.

Diferentemente do que comumente se pensa, um diagnóstico (especialmente quando falamos em transtornos mentais) não é uma afirmação científica classificatória sobre o indivíduo; é um documento, de natureza clínica, produzido por profissionais especializados, acreditados pelo Estado, que tem por objetivo afirmar se um indivíduo necessita de apoio.

Então, o debate deve partir da pergunta “existem razões para acreditar que esse público tem prejuízos tão expressivos que justificam um diagnóstico?”. A resposta é alcançada olhando para as pesquisas que se dedicam especificamente ao TEA nível 1.

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Os estudos mostram que no autismo nível 1, os índices de ideação suicida são muito superiores aos da população típica, as tentativas são mais violentas e mais trágicas e as mortes por suicídio, de 4 a 9 vezes superiores à média.

Os índices de depressão e ansiedade são enormemente superiores, enquanto os de empregabilidade, dramaticamente inferiores, assim como os de qualidade de vida e inclusive de expectativa de vida.

Se tudo isso é verdade, então isso implica que não há uma extrapolação diagnóstica para uma faixa que não precisa dela. O que há é um crescente reconhecimento de uma faixa mais ampla que no passado não recebia nenhuma ajuda e que agora ao menos tem um diagnóstico, a partir do qual podemos questionar e lutar por mais políticas públicas.

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É verdade que a sociedade hoje confere mais diagnósticos de transtornos como o autismo do que o fazia no passado, mas todos os dados apontam que essa oferta não configura um quadro de “hiperdiagnóstico”, e sim que, de modo geral, temos agora mais acesso à informação e aprofissionais qualificados.

Com esses diagnósticos, estamos estendendo a mão para uma faixa mais ampla da sociedade que também precisa de apoio!

* Lucelmo Lacerda é doutor em educação, pesquisador, ativista e autor do livro Crítica à pseudociência em educação especial: trilhas de uma educação inclusiva baseada em evidências

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