Vulcão? Que vulcão?
Desde 3 de maio, o Kilauea, situado na Ilha Grande do arquipélago havaiano, lança nuvens de cinzas para o alto, por vezes a mais de 3 000 metros de altitude
Os entusiastas do golfe juram que não há esporte melhor para estimular a concentração e a calma. Que o digam os frequentadores do Volcano Golf & Country Club, no Havaí. Nada parece ser capaz de deter suas tacadas, nem mesmo a erupção do Kilauea. Desde o dia 3 de maio, o vulcão, situado na Ilha Grande do arquipélago havaiano lança nuvens de cinzas para o alto, por vezes a mais de 3 000 metros de altitude, e despeja lava por enormes fendas no chão (dezenas delas se abriram nas últimas semanas), encobrindo florestas, estradas, carros e casas. A atividade do vulcão vem acompanhada de tremores de terra. O Kilauea formou-se acima do nível do mar há cerca de 100 000 anos e está ativo desde sempre. O seu período mais calmo de que se tem registro foi entre 1934 e 1952. Normalmente, a lava escorre para o mar. Desta vez foi diferente. Quase 2 000 pessoas, 1% apenas da população total da Ilha Grande, tiveram de deixar suas casas. O pior, porém, ainda poderia estar por vir. Na quarta-feira 16, o Serviço Geológico dos Estados Unidos elevou o nível de alerta para o mais alto. Além de terremotos, tsunamis e do efeito destrutivo da lava, há o risco dos elevados índices de dióxido de enxofre emitidos pelo vulcão, que podem ser letais para os moradores. Para sorte dos jogadores e demais frequentadores do campo de golfe, que lá estavam para observar e fotografar a beleza impactante da atividade vulcânica, o vento levava a fumaça do Kilauea para a direção contrária. Não dava nem para sentir o cheiro de enxofre. Os havaianos estão acostumados. Quem dorme ao lado do gigante parece não temer ser acordado por ele.
Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583