Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Travessia de vulcão

Com a superfície do planeta toda esquadrinhada, as grandes expedições foram substituídas por aventuras tecnológicas, como esta de Karina Oliani, na Etiópia

Por Felipe Corazza
Atualizado em 4 jun 2024, 17h30 - Publicado em 19 jan 2018, 06h00

Pendurada a uma corda de kevlar, material dos capacetes à prova de balas e dos pneus de Fórmula 1, a médica e aventureira paulistana Karina Oliani atravessou a cratera do Monte Erta Ale, um vulcão ativo no nordeste da Etiópia. No dia 3 de dezembro, ela cruzou um espaço de 90 metros auxiliada por roldanas, em uma espécie de tirolesa na horizontal. Para sair do lugar, Karina precisava puxar a corda com as duas mãos. Sua roupa prateada, que lembra a de um astronauta, foi produzida com o mesmo material usado nos equipamentos de bombeiro para combater o fogo. Trata-se de um feito inédito. “O calor oscilava demais de acordo com os ciclos do vulcão. Quando ocorriam explosões e vinham aquelas ondas de lava fervilhante, as temperaturas chegavam a 150 ou 200 graus”, diz Karina, que também foi a primeira mulher sul-americana a escalar o Everest pelas duas faces (a norte e a sul). Há mais de uma década ela roda o mundo em busca de novas proezas.

A conquista na Etiópia se enquadra na moldura das aventuras modernas. Com a superfície do planeta toda esquadrinhada por aparelhos de localização por satélite, praticamente não há mais coordenadas que nunca receberam a presença humana. Todos os grandes picos do mundo já foram escalados. Somente certas áreas de selva fechada e as grandes profundezas do oceano, que têm altíssima pressão, seguem inexploradas. Alguns rincões do planeta acabaram até banalizados, caso do Pico do Everest. Em 1953, o neozelandês Edmund Hillary e o xerpa Tenzing Norgay chegaram ao cume com a ajuda de uma expedição com mais de 300 profissionais. A notícia correu o mundo e a dupla entrou para a história. Isso é passado. Em 2017, 648 pessoas estiveram no topo do Everest, e nenhuma chamou atenção pela proeza. Para tanto, atualmente bastam um bom preparo físico e a disposição de desembolsar o valor de um carro. Essa mudança de panorama fez com que os aventureiros do século XXI recorressem a novas formas para ser reconhecidos. Hoje, procura-se aliar a resistência corporal ao uso inteligente da tecnologia. Sem a corda de kevlar, que foi comprada por um especialista canadense e despachada para a Etiópia, Karina não teria alcançado sua meta. “Quando comecei a consultar os especialistas sobre a expedição, todos me diziam que não seria possível”, diz ela.

KARINA-OLIANI-2017-1.jpg
CORAGEM – Karina, no interior de São Paulo: máximas de 200 graus (Luiz Maximilano/VEJA)

O planejamento exaustivo para minimizar os riscos continua fundamental. Se o corpo de Karina se superaquecesse e ela desmaiasse, ou tivesse as mãos queimadas, seria possível puxá­-la com outra corda, presa a um cinto que faz as vezes de uma pequena cadeira. Em seus preparativos, o cuidado da médica e de sua equipe lembra o do navegador Amyr Klink, que em 1984 atravessou o Oceano Atlântico em um barco a remo, aproveitando-se das correntes marítimas. Nas três décadas de distância entre as duas empreitadas, um fator pouco glamouroso foi adicionado às peripécias: a burocracia. Com a multiplicação de aventureiros e a possibilidade de lucrar com eles, as autoridades tornaram-se mais rigorosas com as licenças. “Não sei se vou mais duas ou três vezes para a Antártica, porque agora eu teria de me cadastrar como operador turístico. Acabou aquela coisa de subir em um barco e ir embora. Tudo ficou muito burocrático”, diz Klink. Karina também reclama dos vistos e das autorizações. Ao circularem pela Etiópia, ela e seu time tiveram de ser acompanhados por homens armados com fuzis. A essência de toda aventura, claro, ainda permanece no ar.

Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2018, edição nº 2566

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

2 meses por 8,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.