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Sempre teremos Paris

Para tirar Neymar do Barcelona ainda neste mês, o PSG está disposto a pagar uma multa rescisória de inacreditáveis 811 milhões de reais

Por Alexandre Salvador Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h36 - Publicado em 22 jul 2017, 06h00

Uma única pergunta dominou o futebol internacional na semana passada: Neymar vai mesmo trocar o Barcelona pelo Paris Saint-Germain? A notícia foi dada com exclusividade pelo repórter brasileiro Marcelo Bechler, correspondente do canal Esporte Interativo na Espanha. Virou tema inescapável e rodou o planeta pelas redes sociais. Afinal, Neymar é Neymar, fica atrás apenas de Messi e Cristiano Ronaldo em qualquer ranking dos melhores jogadores de futebol do mundo, e os valores que o fariam cruzar os Pirineus são espetaculares. Para tirá-lo da Catalunha, o PSG precisaria pagar a multa rescisória estipulada no contrato do atacante com o Barcelona: 222 milhões de euros, algo em torno de 811 milhões de reais. Há multas mais caras. A de Messi é de 970 milhões de reais. A de Cristiano Ronaldo, de estratosféricos 3,5 bilhões de reais. Multas rescisórias são altas mesmo porque nasceram para dissuadir qualquer um de pensar em pagá­-las. Mas um xeique ousado, Nasser Al­-Khelaifi, presidente do PSG, não só pensou como pôs as cartas na mesa: se Neymar aceitar, ele pagará.

Caso Al-Khelaifi realmente acerte com Neymar, ao Barcelona não restará outra saída a não ser dar adeus ao jogador. No universo dos negócios, esse tipo de operação, irrecusável, dentro das normas, recebe o nome de oferta hostil. O presidente do clube catalão, Josep Bartolomeu, negou qualquer movimentação. “Neymar não está à venda”, assegurou. O jogador fez silêncio — não confirmou nem negou. As próximas semanas serão nervosas. Até sexta-feira passada, o martelo estava no ar — a chamada “janela” de contratações termina em 31 de agosto. Confirmada a troca de camisas, será a maior transação da história do futebol mundial, superando por larga margem a venda do volante francês Paul Pogba, então da Juventus da Itália, ao Manchester United, da Inglaterra, pelo equivalente a 383 milhões de reais.

O PSG tem bala na agulha. Em 2011, costurou parceria com um acionista majoritário, o fundo Qatar Sports Investments (QSI), de propriedade do emir Tamim bin Hamad Al-Thani, fanático por futebol. Sob o comando do emir, o time francês já desembolsou 2,5 bilhões de reais para levar nomes como o sueco Ibrahimovic e os brasileiros Thiago Silva, David Luiz e Lucas, entre tantos outros. O sonho: conquistar a Liga dos Campeões, vencida nesta temporada pelo Real Madrid de Cristiano Ronaldo. A assinatura com Neymar teria ainda um gostinho especial — a equipe francesa foi desclassificada, agora em 2017, justamente pelo Barcelona, nas oitavas de final. O PSG havia vencido o primeiro jogo, em Paris, por 4 a 0. No duelo de volta, perdeu por 6 a 1, com dois gols de Neymar numa partida que, para muitos, foi a melhor de sua carreira.

O namoro é antigo, e nada dissimulado. VEJA apurou que, em junho do ano passado, em um hotel no balneário de Ibiza, na Espanha, reuniram-se o presidente do PSG, o pai do jogador, Neymar da Silva, o empresário Wagner Ribeiro e o próprio Neymar. No encontro, Al-Khelaifi perguntou ao camisa 11: “O que você quer para jogar no PSG?”. Neymar ficou sem reação. O xeique tratou de lhe apresentar uma lista de benesses: além do salário anual de 40 milhões de euros (145 milhões de reais), livre de impostos — a maior cifra já paga a um futebolista —, o ex-santista teria a sua disposição um jato para levá-lo aos compromissos com a seleção brasileira e participação nos lucros de uma rede hoteleira que levaria seu nome, Hotéis Neymar. O craque, embora saiba desfrutar os prazeres que o dinheiro pode proporcionar, não se deixou seduzir pelas cifras. Tanto que, apesar da oferta tentadora, decidiu permanecer no Barcelona naquela oportunidade — e, é claro, usou a proposta do PSG para melhorar os termos de seu atual contrato.

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Agora, para conseguirem o tão esperado sim do brasileiro, os dirigentes do PSG decidiram apelar ao que parece ser  uma obsessão. Embora tenha uma relação fraterna com Messi no Barcelona, Neymar estará eternamente à sombra do argentino, ao menos até que o hermano pendure as chuteiras (Neymar tem 25 anos, e Messi acabou de completar 30). Tem mais: de acordo com pessoas próximas da negociação, os franceses disseram as palavras mágicas: “Se fechar com a gente, você será o melhor jogador do mundo”.

Não é certo que, indo para o PSG, Neymar vá tornar campeoníssima a equipe onde já jogaram Raí e Ronaldinho Gaúcho — este, aliás, fez o caminho contrário: deixou a França para brilhar no Barcelona. Mas é indiscutível que, na França, Neymar será o número 1, embora de um torneio mais modesto, sem a ribalta do campeonato espanhol. São conjecturas — o que vale mesmo é que a partir de agora Neymar é um jovem de 25 anos por cujo passe alguém se dispõe a pagar uma multa astronômica de 811 milhões de reais. De tal modo que Neymar, em qualquer circunstância, poderá dizer, para usar a expressão do Rick de Humphrey Bogart em Casablanca: “Sempre teremos Paris”.

Com reportagem de Alexandre Senechal

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540

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