“Se ainda estou presente nas revistas Abril, é porque sigo fazendo algo relevante”
Em entrevista especial em celebração aos 75 anos da Abril, Zeca Camargo reflete sobre o valor duradouro da curiosidade e da informação bem contada
Zeca Camargo cresceu folheando revistas da Editora Abril. Recreio, VEJA e os fascículos ajudaram a
moldar sua curiosidade desde cedo. Anos depois, esse mesmo encantamento o levaria a trabalhar no Grupo Abril: primeiro na MTV e, mais tarde, na redação da Capricho. Com 62 anos – e mais de 30 de carreira –, o apresentador continua fiel ao impresso, às boas histórias e segue presente nas páginas das marcas Abril. Em entrevista para a série comemorativa pelos 75 anos da editora, ele reflete sobre a força do jornalismo e a importância de se manter curioso.
Sua história com a Abril é longa. Mas quando ela começou? Eu sempre gostei de revistas. Fui uma criança que lia Recreio. Eu sou sobrinho do Cacaso (o poeta Antônio Carlos de Brito) e a casa dele era um paraíso para mim: cheio de livros e, sobretudo, revistas. Lembro de folhear as edições de
VEJA no final dos anos 1960 e 1970 e ficar fascinado pelas páginas do Millôr Fernandes. Aquilo foi uma formação para mim. Anos depois, quando conheci o Millôr, fiquei emocionado e contei essa história para ele. A primeira revista que comprei foi a Realidade. Eu achava incrível, porque era uma revista sobre a vida e eu era muito curioso. E outra porta de entrada da Abril na minha vida foram os fascículos, até hoje tenho alguns guardados. Meu pai acreditava profundamente na educação e a leitura era parte essencial disso. A relação com a Abril vem lá de trás.
A influência de Cacaso, do seu pai e da curiosidade influenciaram sua carreira? Para mim, a condição básica para ser jornalista é ser curioso. E as revistas sempre foram a principal fonte para saciar essa curiosidade. Elas não ofereciam só leitura, apresentavam novos universos. Eu me lembro de páginas inteiras, de histórias que me marcaram. Conforme fui crescendo, essa curiosidade foi se refinando. Nunca estudei jornalismo formalmente, mas fui convidado a trabalhar nos lugares e me tornei jornalista na prática. Nesse caminho, o Grupo Abril teve um papel muito importante na minha formação.
Sua história profissional com a Abril começa na MTV, certo? Sim. Eu estava na Folha de S.Paulo, meu primeiro trabalho como jornalista, e cheguei a escrever sobre a chegada da MTV ao Brasil. Até que um dia, por escrever muito sobre música, acabei sendo convidado para ser VJ, e fui. Foram quase quatro anos por lá. Depois, passei pela TV Cultura e, na sequência, recebi o convite para trabalhar na Capricho. Tive dois períodos na revista, entre 1994 e 1995, e foram muito marcantes. Transformamos a Capricho em uma publicação quinzenal e trouxemos temas mais quentes, mais conectados com
o que estava acontecendo.
Como foi fazer parte da redação Capricho? Fui muito feliz na Capricho. Só saí porque recebi o convite para entrar no Fantástico – uma oportunidade difícil de recusar. Mas saí com muitas conquistas.
Anos depois, em 2000, fui capa da Capricho por causa do No Limite, que foi um estouro de audiência naquela época. Então tem esse círculo: atuei como editor e voltei como personagem. Tanto a MTV quanto a Capricho me aproximaram ainda mais da cultura pop, que é minha área de conhecimento.
“Quando comemorarmos os 100 anos da Abril, tenho certeza de que
a matéria-prima, que é a informação, vai seguir sendo essencial.”
Você está sempre nas páginas das marcas Abril. Como enxerga sua relação com a editora hoje? Se ainda estou presente nas publicações da Abril, é porque sigo fazendo algo relevante. Sempre que sou convidado para participar, seja como jurado do Comer & Beber, para comentar algum tema na VEJA São Paulo ou escrever um artigo para Claudia, sinto que o que estou fazendo continua inspirando essas redações, essas revistas, esses títulos. Estar nesse radar é muito bom, é uma recompensa.
Recentemente, a Capricho voltou a ser impressa e vemos um interesse das novas gerações pelo papel. Como é isso para você? Você lê revistas impressas hoje ou prefere o digital? Nas minhas viagens às vezes eu esqueço de colocar o laptop na mochila, mas não esqueço a revista. Hoje, tudo convive: vivemos uma pluralidade de possibilidades com o material bruto, que é a informação. O Grupo Abril, e as empresas que respeitam o jornalismo, entende isso muito bem. Não importa a mídia ou o formato em que a informação chega, o que importa é o conteúdo. Particularmente, eu gosto da finitude de uma página impressa. Até hoje me admiro quando vejo uma capa bonita – minha paixão por fotografia certamente veio da minha paixão por revistas também.
Estamos comemorando 75 anos não apenas de revistas, mas principalmente de revistas. Como você enxerga esse feito? Celebrar 75 anos de um formato que já foi dado como extinto tantas vezes é dar um tapa na cara com elegância. É uma prova do vigor e da força do veículo. Se as pessoas continuam a consumir revistas, é porque o conteúdo que elas oferecem ainda é importante. Seja para um adolescente de 13 anos, alguém que quer entender a economia, planejar uma viagem ou para quem é curioso, como eu, a informação é infinita. Quando comemorarmos os 100 anos da Abril, tenho certeza de que a matéria-prima, que é a informação, vai seguir sendo essencial. Ela foi esculpida e lapidada ao longo desses 75 anos e continuará sendo decisiva, tanto para os rumos do país quanto para a vida das pessoas.