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Scott Kelly: Próximo passo, Marte

Astronauta fala dos desafios que venceu em seu recorde de permanência em uma estação espacial, tema do livro 'Endurance', recém-lançado no Brasil

Por Leticia Fuentes Atualizado em 4 jun 2024, 17h24 - Publicado em 8 dez 2017, 06h00

Quase um ano no espaço. O que foi mais empolgante nesse tempo?  A caminhada espacial, sem dúvida. Basicamente, é quando saímos da estação espacial para fazer reparos ou explorar o exterior. É muito perigoso, porque há a possibilidade de muitas coisas darem errado, desde sermos atingidos por rochas espaciais até ocorrer alguma falha nos equipamentos.

Por que aceitou a missão, mesmo ciente desses perigos? Acredito no programa espacial. O perigo de estar constantemente exposto à radiação ou o risco de despressurização da nave ou incêndio dentro da estação existem. Houve um episódio em que perdemos o controle e quase fomos atingidos por lixo espacial. Mas sempre gostei de coisas arriscadas. Experiências como essa nos dão informações em longo prazo sobre a resistência humana à falta de gravidade no espaço — isso nos ajudará, eventualmente, a ir a Marte.

Como é ver a Terra de cima? Não existe nada igual. É lindo, mas também assustador. A atmosfera parece frágil, e você percebe que algumas partes do planeta estão cobertas pela poluição. Entre meu primeiro voo, em 1999, e meu último, em 2015, também notei que as florestas diminuíram.

O que mudou no seu corpo após a missão? Quando voltei para a gravidade, tive inchaço nas pernas, além de ficar muito cansado e enjoado em certos momentos. Parei na emergência de um hospital, com sintomas muito fortes de gripe. Levei seis meses para voltar ao normal.

O que o senhor fazia para passar o tempo no espaço? A Nasa mantinha minha agenda de afazeres bem apertada. No pouco tempo livre, costumava responder a e-mails e conversar com minha noiva e minhas filhas. Também tirava fotos da Terra para postá-las nas redes sociais e assistia à TV. Vi Game of Thrones quase inteiro no espaço.

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Quais são as coisas mais difíceis de fazer sem gravidade? Não dá para colocar as coisas em cima de uma mesa ou no chão — tudo tem de estar preso, para não sair flutuando por aí. Mas há vantagens. É mais fácil mover objetos grandes e pesados.

O senhor acha que iremos a Marte nos próximos anos? É o próximo passo na exploração espacial. Isso depende de haver financiamento. É caro. Mas, definitivamente, acho que é possível.

Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2017, edição nº 2560

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