Os jacarés e a jacaroa
Casta tradicional da política baiana e alvo recorrente de delatores da Lava-Jato, os Vieira Lima poderão ter de pagar multa de 51 milhões de reais à União
Supostamente por não se satisfazer com trocados, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) ganhou do doleiro Lúcio Funaro o apelido de “boca de jacaré”. Na segunda-feira 4, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o ex-ministro, preso desde setembro por obstrução de Justiça, seu irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima, e sua mãe, Marluce Vieira Lima, por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Na denúncia que enviou ao Supremo Tribunal Federal, a procuradora-geral Raquel Dodge atribuiu à mãe de Geddel, de 79 anos, o posto de autoridade no clã: “Marluce tinha um papel ativo e relevante nos atos de lavagem. Apesar de ser uma senhora de idade, não se limitava a emprestar o nome aos atos e a ceder o closet. Era ativa”. Marluce foi acusada por delatores de destruir documentos e agendas, além de guardar dinheiro ilícito arrecadado pelos filhos em malas empilhadas em seu closet. O bunker materno só foi transferido para um segundo apartamento, no bairro da Graça, em Salvador, quando as maletas passaram a ocupar espaço a ponto de impedir o trânsito da matriarca — a quem, dizem amigos, os filhos temem e veneram.
A Polícia Federal de Salvador desconfia que existam outros esconderijos de dinheiro espalhados nas dezenas de propriedades que a família possui no estado. Doze fazendas em nome de Geddel, em Itororó, foram alvo de visitas de policiais nas últimas semanas. Na maior dessas propriedades, conhecida como Tabajara 2, a PF levou até tratores para escavar terrenos. Em busca de mais dinheiro escondido, a PF também vasculhou uma casa à beira-mar que Geddel mantém em Salvador e um apartamento no centro da cidade de Itapetininga. Por enquanto, nada encontrou.
A PGR quer que o trio pague, a título de multa, 51 milhões de reais à União, o mesmo valor encontrado nas malas e sacolas flagradas na sala do apartamento da Graça — cujas fotos entraram para a história da corrupção no Brasil. A dinheirama, aliás, continua guardada em juízo sem que nenhum Vieira Lima tenha ido reclamar sua propriedade. Até parece que os jacarés e a jacaroa perderam a fome.
Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2017, edição nº 2560
Lais Souza: “A esperança voltou”
Quem são os chefões do Comando Vermelho mortos na megaoperação do Rio
Presídio abre espaço para receber Jair Bolsonaro
Bolsonaro rifa Amin para tentar eleger Carluxo ao Senado em Santa Catarina
A reação de Lula ao ser aconselhado a decretar intervenção na segurança do Rio







