É pequena, diminuta mesmo, a lista de pessoas que podem ser consideradas protagonistas de revoluções que transformaram o modo de vida da humanidade. O americano Paul Allen faz parte desse seletíssimo grupo. Ao lado de Bill Gates, um amigo de adolescência, com quem frequentou o mesmo colégio em sua cidade natal, Seattle, ele criou, em 1975, a Microsoft. Tinha, àquela altura, 22 anos (o colega, 19). Ambos já estavam na universidade: Gates na Harvard, Allen em Washington. O segundo convenceu então o primeiro a abandonar os estudos para se dedicar à empresa, cujo intuito era desenvolver ferramentas capazes de popularizar os microcomputadores. A jogada de mestre veio na década de 80, quando Allen e Gates produziram para a IBM um sistema operacional para ser utilizado por leigos, o MS-DOS — que depois evoluiria para o Windows. O resto é história.
Na arrancada inicial da Microsoft, Allen era o homem das ideias, enquanto Gates comandava os negócios. Isso teria provavelmente continuado assim, mas, em 1983, Allen optou por deixar a companhia para lutar contra um linfoma recém-descoberto. Antes da saída, brigou com o amigo, que se queixava de sua queda de produção. Bilionário, venceu a primeira batalha contra o câncer e passou a se dedicar à filantropia (doaria 2 bilhões de dólares ao longo da vida) e a investimentos diversos. Fora da Microsoft, somou realizações de peso na área de esportes, como a aquisição do Seahawks, famosa equipe de futebol americano. Allen ficou ainda célebre por excentricidades — tinha, por exemplo, um iate avaliado em 200 milhões de dólares. Morreu na segunda-feira 15, aos 65 anos, vítima de uma recaída do linfoma. Sua fortuna, de 26 bilhões de dólares, deve ser dividida entre doações e sua irmã, Jody.
Um pioneiro dominical
Carlos Augusto Oliveira, o Guga de Oliveira, não era tão famoso quanto seu irmão mais velho, Boni, executivo que liderou a ascensão da Rede Globo. Mas isso não diminui sua importância e pioneirismo na TV. Figura inquieta dos bastidores, o publicitário foi, ao lado do irmão, um dos idealizadores do Fantástico, lançado pela Globo em 1973. Produziu ainda a primeira novela independente do país, Cortina de Vidro, exibida no SBT entre 1989 e 1990. Morreu no domingo 14, aos 77 anos, de parada cardiorrespiratória.
A voz do mundo cão
Foi por acaso que Gil Gomes virou jornalista policial. Nos anos 60, entrevistava políticos em uma rádio paulistana e mudou a pauta para cobrir um crime no prédio da emissora. A partir daí, Gomes construiu uma persona de sucesso que estabeleceria o padrão dos programas “mundo cão” nacionais. Com voz soturna e modos teatrais, ele elevou seu estilo ao, digamos, estado de arte no Aqui Agora, do SBT, nos anos 90: só com manhas narrativas, transformava fiapos de notícia em crônicas sem fim. Gomes, que havia dez anos sofria de Parkinson, morreu na terça-feira 16 de complicações decorrentes de um câncer.
Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2018, edição nº 2605