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O futuro dos venezuelanos

A maioria deseja voltar para casa, mas em um país democrático

Por Maria Laura Canineu
Atualizado em 4 jun 2024, 16h56 - Publicado em 23 fev 2018, 06h00

Durante visita a Roraima na segunda-feira 12, o presidente Michel Temer anunciou medidas para proporcionar assistência aos venezuelanos que fogem da crise humanitária e de direitos humanos no seu país. Disse que o Brasil não virará as costas aos que fogem da miséria e dedicará “todos os recursos necessários” para resolver sua situação. A visita mostra que a crise continua a transbordar pelas fronteiras e deve ser abordada de forma urgente.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), mais de 1 milhão de venezuelanos já saíram do país e 110 000 solicitaram a condição de refugiado em algum lugar. As autoridades de Boa Vista estimam que 40 000 vivam na capital. Alguns caminharam centenas de quilômetros para chegar ao Brasil e, diante de abrigos lotados e recursos esgotados, buscam novos destinos.

Muitos fogem da crise econômica e humanitária, marcada pela grave escassez de medicamentos e alimentos. Os casos de desnutrição moderada e grave de crianças menores de 5 anos aumentaram de 10,2%, em fevereiro, para mais de 16%, em novembro de 2017, segundo pesquisa da Caritas Venezuela, em Caracas e três estados. Muitos outros fogem da repressão política.

A maioria dos venezuelanos deseja voltar para casa, mas espera retornar a um país democrático, onde suas necessidades básicas possam ser atendidas. Isso levará tempo.

Quando visitei Manaus no ano passado, uma trabalhadora humanitária me mostrou cerca de 100 currículos de venezuelanos em suas mãos, a maior parte deles bem qualificada. Enquanto a Venezuela perde médicos, enfermeiros e professores, pensei no impacto devastador desse êxodo nas suas gerações futuras.

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A única maneira de tratar o fluxo migratório é abordar suas raízes: a repressão do governo e a negação de uma profunda crise humanitária. Isso não acontecerá sem pressão internacional forte e articulada, sobretudo na região.

Nos últimos meses, a comunidade internacional acordou, criticou os abusos do presidente venezuelano Nicolás Maduro e ofereceu ajuda humanitária internacional para aliviar a situação. Na semana passada, o Grupo de Lima, coalizão regional que acompanha as condições na Venezuela, emitiu uma declaração forte para expressar preocupação com a crise humanitária, o êxodo de venezuelanos e a decisão do governo de prosseguir com eleições presidenciais sem garantias adequadas.

As medidas do governo brasileiro para ajudar os imigrantes venezuelanos enviam a importante mensagem de que são bem-vindos no Brasil. Porém, se o presidente Michel Temer quiser lidar efetivamente com a crise, precisará, junto a outros líderes regionais, redobrar a pressão sobre o governo de Maduro, inclusive por meio do apoio a sanções específicas contra autoridades implicadas em inaceitáveis violações de direitos humanos na Venezuela.

Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2018, edição nº 2571

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