O centro do poder
O STF, que se tornou o epicentro do poder nacional, tem suas decisões acompanhadas ao vivo pela TV e membros que recebem tratamento de celebridades

O jornalista e escritor Roberto Pompeu de Toledo brinda os leitores de VEJA, a cada quinze dias, com seus textos primorosos na última página da revista, espaço em que se reveza com J.R. Guzzo. Os leitores, portanto, já sabem que Pompeu de Toledo é dono de um dos textos mais elegantes da imprensa brasileira — e, também, do mercado editorial, para quem já teve o prazer de ler A Capital da Solidão e A Capital da Vertigem, dois livros magníficos sobre a fundação e o crescimento de São Paulo.
Além da pena primorosa, Pompeu de Toledo tem um olhar arguto para as coisas do Brasil — as coisas imensas, que flutuam diante dos olhos de todos, e também as coisas que quase ninguém vê, mas que não escapam ao notável poder de observação do jornalista. Uma exibição dessas qualidades está na reportagem que ocupa vinte páginas desta edição, sobre os bastidores do Supremo Tribunal Federal, a corte que, por artes do destino, se tornou o epicentro do poder nacional.
Pompeu de Toledo não escolhe lançar seu olhar sobre o STF por diletantismo. Nas palavras do jornalista, que por ali perambulou durante duas semanas, “o Supremo de hoje tem a característica inédita, neste e em qualquer outro país, de ser composto de onze rostos que rivalizam, no reconhecimento pela população, com os rostos dos onze da seleção nacional de futebol (pelo menos para quem não coleciona o álbum de figurinhas da Copa do Mundo)”.
A proeminência e o protagonismo do STF decorrem de uma fraqueza dupla. Em primeiro lugar, o Palácio do Planalto, quase sempre o centro nervoso do poder, vive dias de certo desprestígio, seja porque o presidente Michel Temer está em fim de mandato, seja porque seu mandato não contou com a força legitimadora do voto nas urnas. Em segundo lugar, o Congresso, que muitas vezes assumiu a dianteira das questões nacionais, está soterrado em denúncias de corrupção — e desmoralização.
Diante disso, a Praça dos Três Poderes transformou-se na praça de um poder único, cujas decisões são acompanhadas em transmissões ao vivo pela televisão e cujos membros recebem tratamento de celebridades.
A reportagem de Pompeu de Toledo pode ser lida neste link. Boa leitura.
Publicado em VEJA de 16 de maio de 2018, edição nº 2582