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Memória: Vadão e Jimmy Cobb

Treinador de futebol e músico de jazz faleceram nessa semana

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h26 - Publicado em 29 Maio 2020, 06h00

Se a seleção de Cruyff, Neeskens, Rensenbrink e cia., dirigida por Rinus Michels, entrou para a história, na Copa do Mundo de 1974, como o “carrossel holandês”, por que não apelidar o excelente time do Mogi Mirim de 1992 de “carrossel caipira”? Na equipe montada por Oswaldo Fumeiro Alvarez, o Vadão, tal qual na inspiração europeia, os jogadores não guardavam posição, movimentavam-se sem parar, atacavam e, ao perder a bola, defendiam com rapidez. Era, no jargão do futebol, o esquema 3-5-2 — ou seja, a espinha dorsal era composta de cinco jogadores que, no meio de campo, faziam a engrenagem andar. Era bom de ver, nos estádios ou pela televisão. Os destaques: Rivaldo, Leto e Válber. Rivaldo, talvez nem fosse preciso sublinhar, foi um dos responsáveis pelo penta da seleção, em 2002. No apogeu daquele grupo, que não chegou a ser campeão paulista, mas assustou os grandes, Vadão se habituou à discrição, a seu feitio, calado, exageradamente modesto. Somente anos depois é que admitiria: “Acho que era realmente revolucionário”.

Foi o primeiro trabalho de sucesso do treinador que, em seguida, giraria pelo Brasil — em Campinas, treinou os dois clubes locais, o Guarani e a Ponte Preta. Ali é conhecido como “mister Dérbi”, por nunca ter perdido um clássico da cidade — conseguiu cinco vitórias (quatro pelo Guarani e uma pela Ponte) e quatro empates. Dirigiu também o Corinthians e o São Paulo — clube pelo qual lançou Kaká. Em 2014, Vadão daria um novo salto, convidado pela CBF a comandar a seleção feminina. Levou o time ao quarto lugar na Olimpíada de 2016, no Rio. Foi demitido, mas retornou ao cargo em 2017 — chegou até as oitavas de final da Copa do Mundo de 2019, na França, vencida pelos Estados Unidos. “Vá em paz, professor”, postou a atacante Marta. Vadão morreu aos 63 anos, em São Paulo, de câncer no fígado.


No ritmo do jazz

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AUTODIDATA - Jimmy Cobb: parceiro de Miles Davis no genial Kind of Blue (Jack Vartoogian/Getty Images)

Em 1958, Jimmy Cobb sobrevivia fazendo bicos como baterista nos clubes de jazz de Nova York, eventualmente como músico-substituto na banda de Miles Davis. Certo dia, às 6 da tarde, Davis ligou para sua casa perguntando se ele poderia fazer um show naquela mesma noite. Detalhe capcioso: a apresentação seria em Boston, a 350 quilômetros dali. Ele não pensou duas vezes, empacotou a bateria e foi para o aeroporto. Chegou ao clube no momento em que a banda tocava a sequência rítmica de Round Midnight. Cobb montou a bateria e entrou bem a tempo de participar do clímax. “A partir daí, eu já estava na banda. Sem ensaio, sem nada”, lembrou. No ano seguinte, Cobb entraria para a história ao participar da gravação da obra mítica de Davis: Kind of Blue, o disco de jazz mais vendido do mundo, engrossando um time de feras como John Coltrane (saxofone) e Bill Evans (piano). Nascido em janeiro de 1929, em Washington, ele era filho de uma empregada doméstica e um motorista de táxi. Autodidata, raramente fazia solos e sua marca registrada era a forma tranquila, quase casual, com que batia no chimbau sem nunca perder o ritmo. Ele morreu no domingo 24, aos 91 anos, de câncer no pulmão, no Harlem, em Nova York.

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Publicado em VEJA de 3 de junho de 2020, edição nº 2689

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