Imagem da Semana: Habemus cannabis
Pelo equivalente a 4 reais por grama qualquer adulto uruguaio ou residente no país pode comprar até 40 gramas mensais

O Uruguai acaba de se tornar o primeiro país a implantar legalmente a produção, a comercialização e o consumo de maconha para uso recreativo em todo o território. A medida foi sancionada há quase quatro anos, mas só na quarta-feira 19 a etapa mais crucial da lei, a venda em farmácias, começou a vigorar. Longas filas se formaram para adquirir a droga. Três horas antes de fecharem as portas, os quatro estabelecimentos que aderiram à venda de maconha na capital, Montevidéu, ficaram sem mercadoria no estoque. Os registros de usuários interessados no consumo legal dispararam (é preciso ser cadastrado para poder fazer a compra). Pelo equivalente a 4 reais por grama qualquer adulto uruguaio ou residente no país pode comprar até 40 gramas mensais, o que representa sessenta baseados. O sucesso de público foi garantido, resta esperar pelos resultados na segurança e na saúde públicas. Em estados americanos onde a maconha foi legalizada, houve um aumento no número de usuários da droga. Os americanos, sem dúvida, estão satisfeitos com o que encontram nas prateleiras. Já os uruguaios reclamam do baixo teor da substância psicoativa tetraidrocanabinol (THC), regulado para ficar entre 2% e 3%. A média no mercado ilegal é de 14% de THC. Ou seja, a Cannabis oficial do Uruguai é “fraquinha”. “Acreditar que a maconha estatal vai acabar com o tráfico é ingenuidade”, diz a pesquisadora Clarice Sandi, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Replicar o modelo é tarefa árdua, mas os defensores da legalização no Brasil e na Argentina estão de olho. A decisão do Uruguai, ousada e pioneira, é a resposta que o país de 3,5 milhões de habitantes encontrou para o fracasso retumbante da guerra às drogas.
Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540