Quando se pensa nos grandes atores da política global, a Áustria não é o primeiro país que vem à mente, embora já tenha sido sede de um dos impérios mais populosos do mundo e, mais tarde, se dobrado à Alemanha de Adolf Hitler, austríaco de nascimento. Em 2018, o país vai ocupar a presidência do Conselho da União Europeia. É compreensível, portanto, a preocupação com o fato de que o próximo chanceler da Áustria será Sebastian Kurz, líder do Partido do Povo, que venceu as eleições gerais no domingo 15 apelando para uma retórica populista anti-imigração. Aos 31 anos, Kurz será o governante mais jovem do mundo. O “garoto-maravilha”, como é apelidado por seus eleitores, já foi o ministro das Relações Exteriores mais jovem da história austríaca, aos 27 anos. A exemplo de outros populistas da atualidade, Kurz tem como marca registrada um penteado inconfundível — no seu caso, o cabelo com gel bem escorrido para trás. Na campanha, prometeu fechar as principais rotas de imigração pela Europa e cortar benefícios a imigrantes. Suas políticas podem se tornar ainda mais radicais se decidir formar uma coalizão com o Partido da Liberdade, legenda fundada por ex-neonazistas. A União Europeia pouco pode fazer para coibir a guinada nacionalista em seus Estados-membros. A boa notícia é que o partido de Kurz não é exatamente anti-Europa e extremista, e sim um grupo que se aproveitou do receio em relação à recente onda migratória para ganhar as eleições. A Áustria tampouco tem sido palco de demonstrações violentas ou crimes de ódio contra estrangeiros. Tomara que a ascensão do “garoto-maravilha” não mude isso.
Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2017, edição nº 2553