Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

De volta ao topo, afinal

Petrobras colhe os frutos de dois anos de uma administração livre da ingerência populista e retoma posto de maior empresa do país. Mas há o risco político

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h16 - Publicado em 18 Maio 2018, 06h00

Para uma companhia que se acostumou a operar no olho do furacão nos últimos anos, por causa de seu uso político e do esquema de corrupção revelado pela Lava-Jato, a Petrobras atravessa um momento atípico de calmaria. Pode-se dizer até que os ventos começaram a soprar a favor. A empresa obteve um lucro de 7 bilhões de reais no primeiro trimestre, seu melhor resultado em cinco anos. Mais importante, ela tem conseguido reduzir de forma consistente sua dívida monumental, que chegou a ameaçar sua sobrevivência. De volta ao azul no balanço, a estatal anunciou que retomará a distribuição de dividendos aos acionistas. Na esteira da recuperação, a Petrobras superou a Ambev como a empresa brasileira mais valiosa na bolsa, depois de quase quatro anos privada desse status. Em 2018, suas ações acumulam valorização de 70%, o que lhe concede um valor de mercado superior a 380 bilhões de reais (houve uma alta de quase 100 bilhões desde o fim de março). Para completar o cenário quase ideal, a cotação do barril do petróleo do tipo Brent está em trajetória de alta e superou os 80 dólares, o maior valor em três anos e meio.

Tantas notícias positivas não são obra do acaso. São fruto, na verdade, de um plano estratégico posto em prática há pelo menos dois anos, desde que o executivo Pedro Parente assumiu a presidência da petrolífera com o respaldo do governo Temer para adotar as políticas necessárias de recuperação. Naquele momento, a Petrobras era uma empresa com a maior dívida corporativa do mundo, de 500 bilhões de reais, tinha um caixa apertado para investir, estava sangrando com as perdas bilionárias causadas pela corrupção — e, portanto, vivia sendo renegada por investidores (veja o quadro na pág. ao lado).

arte-petro-iPhone
(Arte/VEJA)

Uma das mudanças mais importantes foi a liberdade dada pelo então novo governo para que a companhia pudesse reajustar os preços de derivados do petróleo, como a gasolina e o óleo diesel, em linha com as variações da cotação internacional da matéria-­prima. Outro pilar é o plano de venda de ativos, que atende a dois propósitos: fazer caixa para reduzir a dívida e permitir que a petrolífera concentre seus esforços nas áreas e nos projetos mais relevantes. Ela colocou à venda redes de gasodutos, fábricas de fertilizantes e se desfez de blocos de petróleo nos quais não teria como investir (a alta recente da matéria-prima favorece esse plano, uma vez que valoriza os ativos relacionados à exploração).

Continua após a publicidade

A megalomania e o populismo do PT no poder fizeram com que a Petrobras abraçasse projetos bilionários que não se sustentavam, como a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e outros que não tinham relação com sua área de especialização. Sob a direção de Parente, o plano de investimentos sofreu um choque de realidade: passou de 45 bilhões de dólares, em 2013, para 15 bilhões de dólares, atualmente. A nova gestão também pôs em execução um plano agressivo de diminuição de despesas administrativas e gastos com pessoal, por meio de programas de demissão voluntária e da redução de projetos. O número de funcionários próprios caiu de 81 000 para 69 000 trabalhadores do fim de 2014 até dezembro de 2016 — os dados do ano passado ainda não foram divulgados. O corte foi maior com os terceirizados: quase 50% nesse período, de 231 000 para 118 000 pessoas.

Na mesma direção saneadora, uma importante medida acaba de ser anunciada: o plano de vender uma participação societária em quatro refinarias, duas na Região Sul e duas no Nordeste. É uma atividade na qual a companhia é praticamente monopolista. O tema é um dos tabus remanescentes na indústria de petróleo e gás, e uma das razões para isso está na forte presença — e oposição — de sindicatos. Para a Petrobras, esse domínio poderia ser uma vantagem, mas serve como armadilha. No governo de Dilma Rousseff, o controle do preço da gasolina e do óleo diesel causou uma perda de 55 bilhões de dólares em cinco anos. A empresa não tinha autorização do governo, seu sócio majoritário, para repassar o custo maior com o encarecimento do petróleo. Segundo especialistas, a abertura do mercado de refino para grupos privados tornaria mais difícil o congelamento do preço de combustíveis pelo governo. Por duas razões: porque reduziria o alcance da medida e exporia a intervenção federal à contestação, junto aos órgãos de defesa de concorrência, por parte das empresas prejudicadas.

A guinada radical na condução dos negócios tem o objetivo de recuperar a saúde financeira e operacional da Petrobras, substituindo políticas populistas. Apesar dos números eloquentes, ainda há muita oposição às mudanças: ela vem de segmentos compreensivelmente resistentes, como é o caso de sindicatos que se acostumaram com os tempos de farta distribuição de benesses, e de políticos interessados no loteamento de cargos na estatal e em suas subsidiárias. Há resistência, por fim, de procuradores e juízes que questionam, em geral, a venda de ativos pela estatal, muitas vezes ultrapassando suas atribuições.

Continua após a publicidade

A melhora dos resultados da Petrobras e a valorização expressiva de suas ações são um sinal de que o trabalho dos últimos dois anos está na direção certa. Mas analistas e a própria direção reconhecem que a petrolífera ainda está longe de ser considerada uma empresa saudável. Um dos principais objetivos é reduzir a dívida até que ela corresponda a dois anos e meio da geração de caixa, patamar considerado sustentável pelas métricas de mercado. O aumento expressivo da dívida fez a estatal perder o chamado grau de investimento em 2015, o que se traduziu em custos maiores de captação e de tomada de empréstimos. Recuperar essa nota será importante para reduzir as despesas com o pagamento de juros da dívida e direcionar um volume maior de recursos para investimentos.

Além disso, há outras ameaças. “O grande risco é político, ainda mais em ano de eleição. As estratégias que fizeram a Petrobras se recuperar têm um custo político elevado, em particular a de alinhamento dos preços dos derivados com os do mercado internacional”, diz Edmar Almeida, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele faz referência à escalada do preço da gasolina e do óleo diesel nos postos nos últimos meses. Para Adriano Pires, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura, outro risco é que a melhora dos resultados da Petrobras interfira no respaldo dado pelo governo à direção da empresa. Por fim, uma eventual reversão da valorização do petróleo pode dificultar os planos de venda de ativos e os investimentos para aumento da produção. Não faltam, portanto, obstáculos para a volta da estatal à normalidade.

Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.