Datas: o mistério do disco de Bob Dylan e a descoberta de um tesouro
A morte de Euclides Scalco, um dos fundadores do MDB, também marcou a semana
Foi o equivalente à Queda da Bastilha para os franceses. Em 24 de maio de 1976, a sala de um hotel em Paris foi palco de uma degustação de vinhos que faria história. Fundador de uma escola e loja parisiense, a Académie du Vin, o britânico Steven Spurrier, de 35 anos, organizou um inusitado confronto ao opor celebradas garrafas da França a um lote desconhecido da região do Napa Valley, na Califórnia. Esperava-se, por óbvio, um 7 a 1 europeu — e, no entanto, deu-se a zebra. Foram levados à mesa, em experimentação às cegas, sem rótulo, dez brancos e dez tintos. Entre os brancos, todos de uva chardonnay, seis eram americanos e quatro da Borgonha. Entre os tintos, quase tudo era de cabernet sauvignon, de um lado e do outro do mundo. “Ah, de volta à França”, suspirou um dos jurados, depois de provar um legítimo californiano. Outro, ao levar à boca um Bâtard-Montrachet borgonhês, declarou: “É definitivamente da Califórnia”. E então veio o anúncio: os grandes vencedores foram o Chateau Montelena de 1973, o chardonnay, e o Stag’s Leap Cellars, o cabernet, ambos do Napa Valley. Aquele inesperado resultado, a vitória em campo inimigo, ressoaria para sempre ao redesenhar o mercado internacional. Virou livro e depois filme, O Julgamento de Paris, de 2008. O criador da aventura, Spurrier, morreu em 9 de março, de câncer, aos 79 anos, em Litton Cheney, na Inglaterra.
Mistério resolvido
Desde sempre, e ainda hoje, tudo o que vem da cabeça de Bob Dylan foi sempre cercado de mistério, de supostas segundas intenções. Quem era afinal aquela moça de vermelho, sentada próximo à lareira, na capa de um clássico instantâneo, Bringing It All Back Home, de 1965, a definitiva virada do folk para a guitarra elétrica? Seria, como apostaram alguns críticos, “a representação do lado feminino do roqueiro”? Não. Era Sally Grossman, mulher do empresário de Dylan, Albert Grossman. Simples assim. O cantor e compositor escolheu alguns discos que vinha ouvindo, revistas que andava lendo — e achou bacana ter ao fundo Sally, com cigarro na mão direita. Ela morreu em 11 de março, aos 81 anos, em Woodstock, no estado de Nova York, de causas não reveladas pela família.
A democracia como norte
A recente democracia brasileira seria mais frágil sem os movimentos do gaúcho Euclides Scalco, um dos fundadores do MDB, em 1966, durante a ditadura militar, e do PSDB, em 1988. De voz baixa, sempre cuidadoso, ao estilo dos políticos bons de retórica e afeito a acordos, Scalco comandou a campanha de Fernando Henrique Cardoso à reeleição, em 1998, de quem seria o chefe da Casa Civil, no fim do mandato do tucano. Em 2001, como presidente da Itaipu Binacional, coube a ele administrar a crise do apagão elétrico. Scalco morreu aos 88 anos, em Curitiba, em 16 de março. Tinha sido diagnosticado com Covid-19.
Relíquia da civilização
Com a ajuda de drones, arqueólogos israelenses escavaram onze cavernas de penhascos no deserto da Judeia e de lá anunciaram um tesouro para a civilização: fragmentos de um texto bíblico de estimados 2 000 anos, com trechos do Antigo Testamento. Fariam parte, como peça de um fascinante quebra-cabeça, dos manuscritos do Mar Morto, descobertos em 1947 por beduínos. Aqueles textos, escritos na sua maioria em hebraico antigo, ajudaram a desvendar a sociedade e a religião logo antes e depois de Jesus. Na atual relíquia já foram identificadas onze linhas de textos, em grego, com passagens bíblicas dos livros de Zacarias e Naum. O feito foi revelado ao mundo em 16 de março.
Publicado em VEJA de 24 de março de 2021, edição nº 2730