Daniel Azulay: Adeus, algodão-doce
O desenhista morreu na sexta-feira 27, aos 72 anos, no Rio de Janeiro, depois de contrair Covid-19 em meio a um tratamento de leucemia
Desenhista, quadrinista, pintor e ainda autor de livros infantis, o carioca Daniel Azulay marcou várias gerações de crianças que, nas décadas de 70 e 80, seguiam a Turma do Lambe-Lambe, programa de TV que o elevou à condição de celebridade entre a gurizada — e, por extensão, entre pais que, por tabela, acompanhavam sua trajetória. A atração, que lançou personagens memoráveis como o professor Pirajá, foi pioneira ao apresentar no Brasil um formato que mesclava no ponto certo educação e entretenimento. Dono de figurino inconfundível — roupas sempre coloridas, suspensórios e gravatinha-borboleta —, Azulay desenvolveu uma técnica para ensinar a garotada a pôr a imaginação no papel, construir os próprios brinquedos e converter sucata em pequenas peças de arte.
Nascido em uma família judaica de origem sefardita, vinda da Península Ibérica, ele se formou em direito, mas optou por seguir a carreira artística, cujos fundamentos aprendeu como autodidata. Precocemente, aos 15 anos, publicaria o primeiro desenho de sua autoria em O Globo, para depois despontar com suas tirinhas nas páginas de todos os grandes jornais e revistas do país. Decolaria mais tarde em bem-sucedido voo internacional. Chegou a expor trabalhos em museus como o Louvre e o MoMA. Azulay costumava se despedir das pessoas com uma frase que viria a se tornar seu bordão: “Algodão-doce para vocês!”. Ele morreu na sexta-feira 27, aos 72 anos, no Rio de Janeiro, depois de contrair Covid-19 em meio a um tratamento de leucemia.
Sofia Cerqueira
O erudito pop
Boa parte do frio na espinha causado por filmes como O Exorcista (1973) e O Iluminado (1980) vinha das músicas do maestro polonês Krzysztof Penderecki. Ganhador de quatro prêmios Grammy e um dos maiores compositores eruditos contemporâneos, ele nasceu em 1933, em Debica, na Polônia. No começo da carreira, sob a influência de lendas como o francês Pierre Boulez, abraçou a vanguarda erudita. Com o amadurecimento, porém, reaproximou-se da tradição clássica, mesclando-a com a experimentação e o atonalismo. Em 1960, compôs uma de suas peças mais famosas, a tensa Trenodia às Vítimas de Hiroshima, que ignorava premissas básicas da teoria musical e contava com 52 instrumentos de cordas. De acordo com ele, a composição evocava o horror das vítimas da bomba nuclear jogada sobre Hiroshima em agosto de 1945, durante a II Guerra. Foi no cinema, porém, que ele rompeu a bolha erudita para atingir um público amplo. Além da parceria com Stanley Kubrick em O Iluminado, trabalhou com cineastas como David Lynch e Martin Scorsese. O maestro fez uma improvável parceria com o guitarrista do Radiohead, Jonny Greenwood, no disco Penderecki & Greenwood (2012). Morreu no domingo 29, aos 86 anos, de causa não revelada, em Cracóvia, na Polônia.
Publicado em VEJA de 8 de abril de 2020, edição nº 2681