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Crise de identidade

Quem sou eu, o que é ser brasileiro e o que meu filme tem a ver com isso

Por Fernando Grostein Andrade
10 nov 2017, 06h00 • Atualizado em 4 jun 2024, 19h45
  • Nos últimos treze anos, pus minha energia criativa na concepção de um filme sobre a história de um menino de 12 anos, morador do Brooklyn, em Nova York, filho de um casamento entre imigrantes — ela, israelense; ele, palestino. O menino busca sua identidade por meio da comida.

    Livremente inspirado na minha vida, o filme é falado em inglês. Foi uma decisão que tomei movido por uma paixão pela diversidade cultural do Brooklyn e pelas memórias que vivi com meu saudoso pai em Nova York, quando visitamos a parte da nossa família que mora aqui.

    Escrevo este texto depois de concluir, com muito suor, a primeira semana de filmagens, e sem espaço na cabeça para qualquer outro assunto.

    Lembro que, quando estava inseguro sobre fazer um filme brasileiro falado em inglês, conversei com o querido mestre Hector Babenco e ouvi dele: “Ora, Fernando. Se a sua história é no Everest, você vai adaptá-la para o Pico do Jaraguá só para agradar aos outros? Coragem!”.

    Há algum tempo, eu me mudei temporariamente para Nova York e, para me preparar, fui estudar com um professor de teatro de uma escola tradicional de atores, que me pôs para atuar e refletir sobre a vida e o meu projeto.

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    Isso me ajudou a descobrir por que o tema da identidade me é tão caro: sou filho de mãe judia e pai “católico meio  ateu”, que morreu cedo, e desde que tinha 13 anos, quando meu irmão começou uma carreira na TV, para muitos não sou o Fernando, mas, sim, o irmão do Luciano Huck. Digressões à parte, afinal, o que constitui a nossa identidade, além da língua, família e religião? Comida, é claro!

    Esse foi o meu ponto de partida. Comecei, então, a investigar o tema dentro e fora de mim para criar o filme. O frio na barriga causado pelas filmagens (o filme está sendo rodado, nem existe ainda) produz uma montanha-russa emocional que me fez refletir sobre o que é ser brasileiro. O que fazer para representar a brasilidade no filme, neste momento tão baixo­-astral do nosso país?

    Acho brega e sexista o binômio-­clichê “futebol e mulheres”. Mas fico orgulhoso pela exposição de Hélio Oiticica no Whitney Museum ou pela projeção dos nossos músicos, como Tom, Caetano, Chico e Gil.

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    Lembrei-me de Tarsila do Amaral, do Abaporu, e de Oswald de Andrade (não, infelizmente não é meu parente). Também não me canso de exaltar por aqui a façanha de Fernando Meirelles e Kátia Lund em Cidade de Deus, referência que abre portas quando nos identificamos como brasileiros e cineastas. Quando as pessoas aqui se lembram do filme deles, do seu elenco e da equipe, abrem um sorriso de admiração.

    Esse é o Brasil que me orgulha, essa é a identidade nacional que quero pontuar no filme que está em gestação e cujas dores do parto divido aqui. Essa é a camisa brasileira que visto para nos representar e protestar neste momento trágico que o país atravessa. Quanto à camiseta da CBF, dispenso, obrigado.

    Publicado em VEJA de 15 de novembro de 2017, edição nº 2556

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