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Com os olhos no novo

A tecnologia não pode servir só para entregar pizza rapidamente. Tem de resolver problemas da sociedade, diz um dos criadores do evento que lançou o Twitter

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jan 2018, 15h28 - Publicado em 5 jan 2018, 06h00

Um dos diretores do festival que se transformou no epicentro global de inovações tecnológicas, o texano Hugh Forrest diz que o melhor que a tecnologia tem a oferecer ao mundo nos próximos anos é a resolução de problemas reais da sociedade. Aos 55 anos, Forrest é um caçador de talentos do South by Southwest, ou SXSW, evento que ocorre anualmente na cidade americana de Austin e surgiu há três décadas como um festival para a apresentação de novas bandas de música — e ainda hoje mantém essa característica. Em 2018, o festival, que há dez anos lançou o Twitter, entre outras novidades de impacto mundial, terá início em 16 de março. Em visita recente ao Brasil, Forrest falou a VEJA. A seguir, os principais trechos da conversa.

TRINTA ANOS DE SXSW
“A essência do SXSW não mudou. Continuamos destacando a inovação e, em especial, o valor do processo criativo. Contudo, mudaram as plataformas usadas para ambas as coisas. Quando começamos o SXSW, em 1987, muitos estudantes recém-formados estavam se mudando para Austin, no Texas, que, desde o início, tem sido a sede do nosso evento, para formar uma banda. Isso porque a cidade se tornava um polo para artistas de vanguarda. Logo, o festival nasceu calcado nesse aspecto. Nas últimas três décadas, no entanto, houve uma transformação do conceito de inovação. Hoje, ainda há quem vá para Austin em busca de uma carreira musical. Só que também há aqueles que querem se tornar outro tipo de astro, fundando startups. Assim, o SXSW se transformou num centro de encontro de empreendedores. Em comum entre artistas e donos de startups há o cunho inovador e, também, o desejo de poder controlar o próprio destino e se tornar uma estrela, um novo Mark Zuckerberg. É claro que apenas uma fração mínima atinge esse objetivo. Só que, ao mesmo tempo, é esse tipo de ambição que desenha o mundo atual. O SXSW tem o objetivo de entender a sociedade e, em especial, as mudanças que afetam a nossa vida.”

Isso é SXSW – Obama, destaque do festival em 2016, e a cantora trans Liniker, que participou da edição de 2017 (SXSW/Divulgação; Reshma Kirpalani/VEJA)

TWITTER
“Quando o Twitter foi lançado no palco do SXSW, em 2007, o sucesso fez com que muitas startups quisessem estar no evento. Até porque nos tornamos atrativos para os investidores, que podem escolher no festival suas novas apostas. Além disso, pense como era o mundo há quinze anos. Pouquíssimos sabiam direito o que era uma rede social. No SXSW, nós nos propomos a lançar luz sobre esse tipo de novidade, de modo a entendê-la.”

O QUE FICA E O QUE VAI
“Estamos sempre ansiosos pela próxima grande descoberta. Não acho que a impressão 3D esteja no ponto, por exemplo, nem a realidade virtual. A internet das coisas também parece estar no meio do caminho, em via de se concretizar. Nas últimas semanas, vimos avanços com relação à tecnologia de blockchain (plataforma digital que funciona como um sistema de contabilidade para transações de moedas virtuais, como o bitcoin). Mas não sabemos quanto tempo essa onda vai durar. O SXSW é o lugar para ouvirmos sobre essas novas ideias e refletirmos acerca do impacto que terão sobre nós.”

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TROLLS E HATERS
“A tecnologia também tem de ser desenvolvida de forma que possa resolver problemas reais da sociedade. Em todas as nações, vemos algum interesse em resolver assuntos da humanidade. Não é só uma questão de fazer um aplicativo que permita entregar mais rápido uma pizza à porta de sua casa — um tipo de inovação que é da natureza do capitalismo. Hoje, um desafio urgente são os trolls e haters da internet — como monitorar, regular e, talvez, controlar os discursos de ódio que se espalham pela web? Aí reside um grande problema, e também uma oportunidade, que uma nova startup poderia pensar em resolver.”

PRESIDENTES QUE TUÍTAM
“O presidente Donald Trump mostrou o poder que alguém é capaz de ganhar ao entender as novas formas de comunicação. Achávamos que Barack Obama era inovador em sua atuação nas redes sociais. Só que não antecipamos a existência de um presidente que chega a postar vinte tuítes por dia. Também não imaginamos que isso alimentaria comunidades baseadas no ódio, moldadas para servir de base para esse poder. Goste-se ou não, Trump manifesta todas as mudanças recentes que ocorreram no ramo da tecnologia. Obama discursou no SXSW de 2016. A figura dele combinou com o festival, não só por ele ser um democrata. Em sua gestão, Obama estimulou a indústria de startups e de inovação. Já Trump faz o contrário: luta para conter o progresso.”

BRASILEIROS
“O Brasil tem a segunda maior delegação estrangeira do SXSW, menor apenas que a do Reino Unido. Isso mostra como o país cresceu como polo de inovação nos últimos cinco anos. Temos nos esforçado para levar mais brasileiros ao festival, sejam eles músicos, empreendedores ou investidores (na edição de 2017, a cantora transexual Liniker, vocalista da banda Liniker e os Caramelows, fez parte da programação do Music do SXSW). Pessoas que se veem como “patinhos feios”, a exemplo de muitos dos que nascem no Brasil, tradicionalmente se esforçam mais e têm resultados melhores. O Brasil é um país que demonstra imensa criatividade em todas as áreas. E criatividade é justamente a moeda de troca do festival, o que o movimenta. O que vale aqui não é ter dinheiro no bolso ou um extenso currículo. Mas apresentar ideias que busquem resolver problemas persistentes da humanidade.”

Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2018, edição nº 2564

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