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Com as asas cortadas

O Congresso americano impõe sanções contra a Rússia e reduz o poder de atuação de Trump em política externa. São os primeiros efeitos do Russiagate

Por Luiza Queiroz
Atualizado em 5 ago 2017, 06h00 - Publicado em 5 ago 2017, 06h00

De todos os líderes mundiais, o mais aprazível, segundo o presidente americano Donald Trump, é o russo Vladimir Putin. Em 2013, quando ainda não tinha se aventurado na política, Trump tuitou sobre o concurso de beleza que organizaria na Rússia: “Vocês acham que Putin irá ao Concurso Miss Universo em novembro em Moscou? Se sim, será que ele se tornará meu novo melhor amigo?”. Dois anos depois, ele falou novamente sobre o russo: “É sempre uma grande honra ser elogiado de maneira tão gentil por um homem tão altamente respeitado dentro de seu país e além”. Em janeiro deste ano, durante uma conversa com o primeiro-ministro australiano Malcolm Turnbull, cuja transcrição foi obtida pelo jornal The Washington Post na semana passada, Trump, já presidente, comentou que seu telefonema ao russo tinha sido o mais prazeroso daquele dia. Durante a campanha presidencial, muitos políticos, republicanos e democratas, viram a amizade com suspeita. A bronca aumentou depois que ficou evidente que os russos tinham invadido os computadores da campanha da democrata Hillary Clinton para beneficiar Trump. Na semana passada, soube-se que o procurador-geral Robert Mueller, responsável pela investigação da interferência russa nas eleições, pediu um recurso especial para obter documentos, convocar testemunhas e indiciar pessoas. Nas duas últimas semanas, seguindo na mesma toada, o Congresso aprovou novas sanções econômicas contra a Rússia. Trump sancionou a lei a contragosto, com quase uma semana de atraso, na quarta-feira 2.

A nova lei passou na Câmara dos Representantes com 419 votos a favor e apenas 3 contra. No Senado, foram 98 contra 2 — e as duas Casas têm maioria republicana. As medidas incluem o congelamento de bens e a revogação de vistos de indivíduos que invadiram os computadores americanos, que cometeram abusos contra os direitos humanos ou que se envolveram em casos de corrupção na Rússia. Antes de Trump sancionar a lei, Putin mandou, em retaliação, que os Estados Unidos retirassem 755 diplomatas que trabalham na embaixada americana em Moscou.

Além do objetivo evidente de impedir que seu presidente se aproxime demais daquele que, para muitos americanos, deveria ser seu principal rival, a iniciativa dos congressistas tem outro fim: conter o ímpeto presidencial na área em que ele tem mais raio de ação, a política externa. “Os republicanos ainda apoiam Trump, mas as tensões cresceram e mais congressistas estão dispostos a se posicionar contra ele”, diz Julian Zelizer, historiador e professor de relações públicas da Universidade Princeton. Além de citar a Rússia, a legislação se aplica à Coreia do Norte e ao Irã, e cria empecilhos para evitar que o presidente revogue sua aplicação.

A rixa doméstica, contudo, tornará a solução do impasse internacional ainda mais complicada. Para Putin, que também está sendo castigado por ter invadido a Península da Crimeia em 2014, a esperança era que Trump tivesse alguma influência para revogar as sanções já em vigor contra a Rússia. “Sem a confiança de que as sanções podem ser retiradas, será mais difícil fazer com que a Rússia mude seu comportamento ofensivo”, diz Mark Kramer, cientista político da Universidade Harvard. As asas de Trump vão sendo cortadas à medida que a investigação do Russiagate avança.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2017, edição nº 2542

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