Carta ao Leitor: No mundo do autismo
Nesta edição, VEJA publica uma reportagem sobre esse transtorno ainda pouco compreendido e, no entanto, tão disseminado
Em seus quase cinquenta anos de história, VEJA nunca deixou de dar atenção especial aos temas da infância e da família por duas razões elementares: sua complexidade e sua universalidade. As capas da revista já trataram do drama de pais com pouco tempo para passar com os filhos e do impacto da era da informação sobre a cabeça de pequenos geniozinhos. Também já abordaram a dificuldade dos pais de impor limites na educação dos filhos e a relação entre os videogames e o cérebro em plena fase de desenvolvimento, como mostram as imagens das capas ao lado.
Nesta edição, a revista publica uma reportagem sobre o mundo do autismo, esse transtorno ainda pouco compreendido e, no entanto, tão disseminado — afeta uma em cada 68 crianças. A síndrome de Down, por exemplo, com a qual a sociedade brasileira está bem mais familiarizada, é um distúrbio mais raro: acomete uma criança em cada 700. O Brasil tem, hoje, cerca de 2 milhões de autistas, mas estima-se que haja pelo menos mais 1 milhão ainda sem o devido diagnóstico — o que impõe um sacrifício adicional e desnecessário às famílias.
Escalada para mergulhar no assunto, a repórter Natalia Cuminale, 30 anos e cinco de VEJA, conversou com pais, mães e especialistas, leu dois livros — Outra Sintonia, de John Donvan e Caren Zucker, e Longe da Árvore, de Andrew Solomon — e assistiu a dois filmes, Rain Man e Temple Grandin. “Depois dessas semanas de intenso contato com as famílias com filhos autistas, a sensação é de admiração e respeito por elas”, diz Natalia, que, curiosamente, estreou em VEJA assinando uma reportagem sobre o tema.
Nos cinco anos que se passaram desde a estreia de Natalia na revista, aprofundou-se muito o conhecimento sobre o autismo, embora ele ainda seja um transtorno enigmático. No campo das novidades recentes, a reportagem traz duas boas notícias. Uma delas é a descoberta, divulgada há pouco por um prestigioso jornal de medicina, de que um dos sintomas mais comuns no autismo — seu portador não olha para os olhos dos interlocutores — pode ter um traço genético. O achado abre uma avenida para novas pesquisas e um maior entendimento sobre o transtorno. A outra novidade é que em breve a medicina poderá contar com uma nova e eficaz ferramenta para o diagnóstico mais preciso do autismo: o rastreamento ocular.
VEJA agradece às famílias que receberam a reportagem e, em especial, às crianças e adolescentes autistas — entre eles, Frederico Uelze, o espertíssimo garotinho de 9 anos cuja fotografia abre a matéria. Fred, apesar de nunca se ter dado muito bem diante de uma máquina fotográfica, aceitou posar para as fotos. Quando achou que a sessão de flashes já estava se prolongando demais, saiu-se com uma ordem espirituosa: “Sem surpresas, tá bom? Acabou o show”.
Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540