Carta ao Leitor: a nova era liberal
Está em gestação no Ministério da Economia uma série de ações que podem destravar o desenvolvimento econômico do país
É provável que o leitor mais familiarizado com o jargão econômico tenha ouvido a expressão “voo de galinha” para classificar o ritmo de crescimento do PIB brasileiro nos últimos anos. Embora irônica, dado que o bípede em questão não se mantém no ar por mais que três segundos, a imagem é das mais fidedignas quando se examinam os índices dos últimos anos. Entre algumas levitações momentâneas, o chão (ou até mesmo o subsolo) tem sido a nossa realidade constante. Contribuiu em boa parte para essa estagnação a política econômica implantada pelo governo do PT, em que o Estado assumiu o papel de indutor do crescimento, elegendo empresas e setores que iriam liderar esse processo. Inspirada de forma distorcida nas ideias do economista John Maynard Keynes, tal opção se revelou desastrosa — não apenas porque os cofres públicos não são infinitos, o que leva necessariamente à interrupção da irresponsável farra, mas também por ter servido de pano de fundo para um dos maiores esquemas de corrupção do planeta.
Eleito com quase 58 milhões de votos, Jair Bolsonaro deixou clara sua intenção de desmontar as estruturas que emperram o espírito animal dos empreendedores brasileiros, reduzindo a presença do Estado na economia e proporcionando condições mais favoráveis ao ambiente de negócios. Um primeiro (e importante) passo foi dado com a aprovação parcial da reforma da Previdência. Mas o que vem por aí é muito mais ambicioso. A reportagem desta edição mostra que está em gestação no Ministério da Economia uma série de ações que podem destravar de verdade o desenvolvimento econômico do país. Se de fato for implementado da maneira como está sendo elaborado, o plano do ministro Paulo Guedes marcará a entrada do Brasil numa nova era liberal. Ao contrário de outros projetos do passado, em destaque nas capas de VEJA abaixo, não se trata de uma medida abilolada como o sequestro das cadernetas de poupança, realizado por Fernando Collor, ou com um objetivo eleitoral, como o Plano Cruzado, de José Sarney. Tampouco está concentrado numa bala de prata, a exemplo do Plano Real, que brilhantemente estabilizou a moeda e derrotou a inflação.
Sem mágicas nem atalhos, o “Plano Guedes” é um conjunto de iniciativas que passam pela reforma do Estado, por privatizações, reformas constitucionais, automatização de processos burocráticos, alterações na carreira dos servidores públicos e outras transformações necessárias para que o Brasil possa voltar a crescer — em patamares satisfatórios e de forma constante. Um cálculo preliminar estima que essas ações somadas terão um impacto de mais de 3 trilhões de reais na economia, já descontado o trilhão da Previdência, e podem contribuir para dobrar o PIB per capita dos atuais 32 747 reais por ano para cerca de 65 000 reais em 2029. Evidentemente, algumas dessas medidas precisam do aval do Congresso. Mas esta é outra boa notícia. Apesar de uma desavença ou outra entre os chefes do Legislativo e o governo, o Parlamento, liderado pelo deputado Rodrigo Maia, já deu mostras de que atua com responsabilidade e abraça as causas a favor do país. Que saia do papel então a nova era liberal, aquela que fará o Brasil voar de verdade — e deixar para trás os tempos de cacarejo e pousos frequentes.
Publicado em VEJA de 31 de julho de 2019, edição nº 2645