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As crianças e o marshmallow

Morre, aos 88 anos, o cientista Walter Mischel

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 17h07 - Publicado em 21 set 2018, 07h00

O vídeo tem presença certa em aulas de psicologia e palestras de autoajuda. Crianças de 3 a 6 anos são deixadas sozinhas em uma sala diante de um marsh­mallow e recebem a seguinte proposta: ou comem o doce imediatamente ou resistem à tentação por quinze minutos e ganham mais um. As reações são hilárias: algumas crianças acariciam a guloseima, outras a cheiram, umas poucas dão uma mordidinha e tentam esconder o estrago. No fim, a maioria delas resiste e ganha o doce extra. A experiência, datada do início dos anos 1970, foi repetida no YouTube, com mais de 6 milhões de visualizações. A intenção do “teste do marshmallow”, como ficou conhecido (embora envolvesse outras iguarias), era identificar a predisposição das pessoas para elaborar estratégias — capacidade que se estenderia ao longo da vida, na escola e no trabalho, como mostraram estudos posteriores que acompanharam o crescimento dos jovens que passaram pela experiência. Duas décadas depois do experimento original, os pesquisadores retomaram o contato com os participantes e, em um levantamento publicado na década de 90, ainda que cheio de ressalvas quanto à precisão científica dos achados, estabeleceram uma relação entre autocontrole e sucesso na idade adulta.

O inventor do teste, o psicólogo americano Walter Mischel, que já era um respeitado cientista com passagens pelas universidades Harvard e Stanford, ganhou imensa notoriedade depois do jogo com a meninada. O teste do marshmallow foi considerado um dos mais influentes das últimas décadas. Disse Mischel a VEJA, em 2016: “Vi muita gente com problema de autocontrole na infância apresentar grande evolução ao longo da vida. O autocontrole é uma habilidade que pode ser apreendida e aprimorada”. O cientista morreu no dia 12, em Nova York, de câncer de pâncreas, aos 88 anos.


A Time é notícia

Reduzida em número de páginas, assinaturas e receitas de publicidade a uma pequena fração do que era no passado, a Time — a revista de maior tiragem e maior influência do mundo, em que a revelação do “Homem (hoje Pessoa) do Ano” era aguardada como um Oscar — foi comprada por Marc Benioff, dono da Salesforce, líder na produção de softwares com sede em São Francisco, na Califórnia. A revista era controlada pela Meredith, uma empresa de comunicação que a adquiriu em novembro de 2017 com o propósito de passá-­la adiante. Mas os motivos que levaram à transação são vagos. “Há duas semanas, nem sabia que ia comprar a Time”, disse Benioff em entrevista ao The New York Times. “Ela reflete nossos valores e interesses”, declarou em outro momento — o empresário é fortemente envolvido com causas sociais que a Time sempre apoiou.

O anúncio da compra se deu no domingo 16, e o valor do negócio — 190 milhões de dólares — foi considerado pelo mercado acima da expectativa, o que, em si, é um sinal dos tempos difíceis da imprensa escrita: em 2000 a provedora de internet AOL comprou a Time Warner, empresa-mãe da qual a revista era um dos pilares, por 160 bilhões de dólares. Especialistas apontaram uma ironia: nos últimos anos, além da Time, duas publicações importantes, o jornal The Washington Post (comprado por Jeff Bezos, da Amazon) e a revista The Atlantic (da qual Laurene Powell Jobs, a viúva de Steve Jobs, se tornou acionista majoritária), foram parar nas mãos de gigantes do mundo digital, justamente o setor que levou ao encolhimento das receitas das publicações impressas.

Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601

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