A segunda vítima
Morre Luciiano Macedo, o catador de lixo que tentou socorrer o músico Evaldo Rosa e a família dele, alvos de ação militar no Rio de Janeiro
Na tarde do último dia 7, o catador de lixo Luciano Macedo, de 27 anos, largou o carrinho que usava e precipitou-se no meio de uma chuva de balas. Seu propósito era ajudar o músico Evaldo dos Santos Rosa, a família dele e uma amiga, alvos de uma catastrófica ação militar no bairro de Guadalupe, Zona Norte do Rio. Na versão dos soldados do Exército envolvidos no caso, eles confundiram o veículo de Evaldo com o de um grupo de assaltantes — e, assim, dispararam oitenta tiros. Repetindo: oitenta tiros, os hoje tristemente famosos oitenta tiros. O músico morreu na hora; os demais ocupantes do automóvel sobreviveram. Luciano, atingido no tórax, foi internado. Onze dias e duas cirurgias depois, ele morreu na quinta-feira 18.
Doze militares participaram da patrulha. Dois não foram indiciados (dirigiam as viaturas policiais). Dez foram presos depois de prestar depoimento, na única decisão correta de todo o episódio. Nove deles continuaram detidos após a audiência. “O Exército matou meu filho”, protestou a mãe de Luciano Macedo durante o seu funeral. Ela contou que o catador se sentia protegido por morar perto de uma unidade militar. “O Exército está ali, a gente está seguro”, teria dito Luciano à mãe, pouco tempo antes de ser morto. O presidente Jair Bolsonaro classificou o episódio como um “incidente”.
Drama da autodestruição
O pernambucano Valdiram Caetano de Morais ganhou destaque no futebol ao ser artilheiro da Copa do Brasil de 2006, pelo Vasco da Gama, com sete gols marcados. Ao lado de Romário, ele levou o clube ao vice-campeonato (o vencedor foi o Flamengo). Depois disso viriam a decadência e recorrentes trocas de camisa, porque ele já não se adaptava a equipe alguma. Valdiram envolveu-se ainda em casos de indisciplina, com falta aos treinos.
No tempo da fama, ele desenvolveu o gosto por bebida e drogas. Em 2018, já viciado em crack, passou a vagar pelas ruas da Baixada Fluminense e, posteriormente, da Zona Norte de São Paulo. No sábado 20, ele foi encontrado morto numa rua paulistana. Tinha 36 anos. Havia sido violentamente espancado. A polícia investiga as motivações do homicídio. Trabalha com a tese de que seu assassinato tenha relação com algum crime cometido pelo ex-jogador dias antes de sua morte.
Estilo e alto-astral
No fim dos anos 1960, a jornalista niteroiense Geísa Teixeira Mello passou por uma experiência marcante: ela estava na primeira equipe de VEJA, lançada em setembro de 1968. Na década de 80, Geísa decidiu radicar-se em Brasília. Lá trabalhou no Correio Braziliense e na antiga Radiobrás. Gegê, como era chamada pelos amigos, tinha como características o estilo elegante, o conhecimento sobre os mais variados assuntos — e o alto-astral. A jornalista, que foi casada com o ator Cláudio Marzo (1940-2015), morreu na segunda-feira 22, aos 71 anos, em decorrência de um câncer, no Distrito Federal.
Jornalista e atriz
Por 34 anos, a paulistana Cecília Thompson trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, de onde saiu em 2009. Tinha predileção pela cobertura de um assunto: o sistema previdenciário. Ex-mulher do dramaturgo e ator Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), Cecília chegou a atuar no teatro. Militante de esquerda, foi presa e torturada durante a ditadura. A morte do filho Flávio, há três anos, teve forte impacto sobre sua saúde — segundo a família, foi quando ela desenvolveu mielodisplasia. A doença acarretou sua morte, na quinta-feira 18, aos 82 anos, em São Paulo.
Publicado em VEJA de 1º de maio de 2019, edição nº 2632
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