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Selfies e sapatos de couro: como Francisco transformou a fé em memes para mandar seu recado

Papa soube como poucos usar os meios de comunicação para promover mudanças profundas na Igreja

Por Ricardo Ferraz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 abr 2025, 11h57 - Publicado em 21 abr 2025, 11h50

Na Igreja Católica, cabe aos jesuítas comandar o departamento de comunicação social. Durante a guerra fria, foi a Companhia de Jesus que montou o poderoso aparato de rádio de ondas curtas, capaz de transmitir, em diversas línguas, mensagens de fé que alcançavam o leste europeu, onde os regimes comunistas haviam abolido as manifestações religiosas. Seguidor de Santo Inácio de Loyola , Papa Francisco entendeu logo no início de seu pontificado que precisaria se comunicar bem se quisesse ter sucesso em arejar a modorrenta estrutura que passaria a comandar.

O carrancudo Jorge Bergoglio, capaz de promover virulentas vigílias conservadoras em praça pública contra a união civil entre homossexuais, na Argentina, deu lugar a Francisco, um papa amoroso e carismático, o primeiro a adotar o nome do santo que fez voto de pobreza e dedicou a vida aos animais.

Uma vez empossado, seus primeiros atos trataram de passar a imagem de um homem austero, que, embora representasse a imagem de Deus na Terra, era também uma pessoa comum. Assim que foi eleito, fez questão de pagar por sua hospedagem em um pequeno hotel de Roma e dispensou o uso de pomposos e antigos símbolos papais,  ressucitados por Bento XVI, seu antecessor.

“O carnaval acabou”, se limitou a dizer para seus auxiliares, ao informar que iria calçar sapatos pretos comuns (e não os vermelhos, confeccionais pela grife Prada) e ostentaria no peito o crucifixo de ferro, da época em que era bispo em Buenos Aires, e não uma jóia de ouro incrustrada com pedras preciosas.

Em uma instituição milenar que nasceu em torno da construção de símbolos, a mudança soou como um cavalo de pau em um transatlântico. Se Bento XVI costumava minimizar a perda de fieis da Igreja Católica, dizendo orgulhoso que não importava o tamanho do rebanho, mas sim se ele era capaz de viver a vida seguindo à risca os preceitos cristãos, Francisco mandava a mensagem de que a modernidade (ainda que representada em prosaicos sapatos de couro) batia à sua porta.

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PERFIL NO INSTA

Em tempos de internet e redes sociais, o jesuíta Bergoglio abraçou o lema cunhado pelo teórico canadense, Marshal McLuhan de que o meio é a mensagem. Embora tenha parado de assistir televisão em 1990, o Papa criou um perfil no Instagram, em 2016, estabelecendo um recorde com 1,4 milhão de seguidores em menos de 12 horas. Nos últimos dias de sua vida, participou de chamadas semanais via WhatsApp. Após as homilias na Basílica de São Pedro, se dispôs a posar para selfies, especialmente com  adolescentes, em imagens rapidamente compartilhada nas redes.

Adepto às mais modernas formas de comunicação, o pontífice chegou a declarar que a internet era “um presente de Deus”, mas se preocupava com o aspecto alienante que as plataformas, projetadas para manter as pessoas frequentemente conectadas, eram capazes de promover.

A cobertura jornalística do período em que esteve internado no hospital Gemelli, em Roma, chamou atenção pela transparência que os assessores do Vaticano passavam informações à imprensa, em boletins diários, divulgados inclusive pelas redes sociais. Algo que trouxe estranhamento até mesmo aos escaldados padres responsáveis pelo contato diário com veículos da mídia nem sempre simpáticos aos aspectos reformadores da gestão papal.

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Transformando a fé em “meme”, ao mesmo tempo em que mandava recados claros sobre a chacoalhada na poeira que tentava promover, a figura pública de Francisco foi meticulosamente talhada como um homem rigoroso com seus pares, capaz de implementar mudanças profundas na Igreja para acabar com os recorrentes escândalos de pedofilia, e bondoso e acolhedor com seu fieis.

A aura de latino americano, que gostava de pizza, mate e alfajor e era torcedor incondicional do San Lorenzo de Almagro, tradicional equipe de Buenos Aires, fizeram de Francisco um Papa popular e antenado com as particularidades de seu tempo. Não é todo dia que a Igreja se permite tamanha ousadia.

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