Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Igreja mais antiga do Brasil passa por ampla restauração

O objetivo é recuperar as suas formas originais, num raro processo de valorização do patrimônio nacional

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h11 - Publicado em 24 abr 2022, 08h00

Construída para marcar a vitória dos portugueses sobre os índios caetés em setembro de 1535, na Capitania de Pernambuco, a Igreja dos Santos Cosme e Damião atravessou séculos como memória incômoda do massacre. Localizada no centro histórico de Igarassu, a 30 quilômetros do Recife, ela passou por muitas transformações ao longo de seus 486 anos de existência — o que lhe garante o título de mais antigo templo católico ainda de pé no Brasil. A restauração mais recente se iniciou há pouco mais de dois anos, antes de a pandemia se instalar no país. Em razão das restrições sanitárias, só ficou pronta neste mês. Embora o motivo de sua edificação seja lamentável, trata-se, sem dúvida, de um tesouro precioso, tombado desde 1951 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A construção começou ainda em 1535, a pedido de Duarte Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco, em agradecimento ao desempenho bélico de seus soldados contra os indígenas, desfecho bem-sucedido (para os brancos, claro) que ele atribuiu a um milagre dos santos gêmeos — o que explica a devoção do templo. Organizada pelo preposto Afonso Gonçalves, a igreja feita originalmente em taipa, método primitivo que combina estrutura de madeira e barro, deu origem ao povoado, depois elevado à categoria de vila pela Coroa. O primeiro registro de sua existência é uma carta de 1548, enviada por Gonçalves ao rei português Dom João III, na qual pedia autorização para gastar os dízimos com a aquisição de objetos sagrados e ornamentos.

INTERIORES - Altares, pinturas, imagens e ornamentos: a proposta da equipe responsável pelo trabalho foi retomar as formas originais da maioria das peças -
INTERIORES - Altares, pinturas, imagens e ornamentos: a proposta da equipe responsável pelo trabalho foi retomar as formas originais da maioria das peças – (Fotos Ivonildo Pedro/.)

A primeira edificação, mais rudimentar, não resistiu à ação do tempo e ruiu de modo inapelável em 1595. No mesmo lugar, foi erguida uma outra, de pedra e cal, obedecendo à planta original. É essa que pode ser vista na tela pintada pelo holandês Frans Post na primeira metade do século XVII. Em 1755, a igreja passou pela primeira grande reforma, que mudou suas características arquitetônicas do maneirismo para o barroco: o frontão de linhas retas ganhou curvas, as janelas foram modificadas e os nichos de santos suprimidos. A última grande restauração, em 1958, devolveu sua fachada maneirista, manteve a torre barroca, e os altares retomaram as formas originais.

No trabalho feito entre 2020 e 2022, a igreja passou por uma nova e ampla reforma, que buscou restabelecer suas características do século XVII e também incluir modernizações necessárias, como a instalação de sistemas de prevenção contra incêndio, recuperação da rede elétrica e adaptação de acessos para portadores de necessidades especiais. Outras atualizações que miram na informação e no conforto dos visitantes incluem a criação de um espaço expositivo no primeiro andar da Casa Paroquial e a abertura de um café. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da Lei de Incentivo à Cultura, destinou 4,2 milhões de reais para o projeto.

Continua após a publicidade

arte igreja

Além disso, todos os altares da igreja foram recuperados e exibem suas características de 1754, quando foram instalados, embora alguns deles tenham perdido mais da metade de sua matéria original e precisaram ser reconstruídos. Parte da pintura da abóboda foi preservada como informação histórica e não inteiramente refeita por questões de ordem técnica. Imagens e ornamentos também passaram pelo escrutínio dos técnicos. “O embelezamento da estrutura física possibilita ao fiel refazer sua ligação com o alto de uma forma mais fácil”, disse a VEJA o historiador Jorge Barreto, consultor da restauração. “Agora ficou prazeroso visitar a igreja, que está como se fosse nova.”

Embora o título de casa religiosa mais antiga do Brasil seja questionado por outro templo católico de Pernambuco, em Itamaracá, a de Igarassu continua sendo a principal referência nos registros oficiais dos órgãos de preservação. Iniciativas como essa, vale ressaltar, devem ser aplaudidas. A preservação de monumentos é atalho para aprender mais sobre a formação do país, modo inteligente de não apagarmos capítulos da civilização, mesmo que sejam travessias condenáveis.

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.