União Brasil quer poder de veto em federação com o PP
Por esse desenho, temas como lançamento de candidaturas e adesão à base governista teriam de ser avalizados por ambas as partes
Em negociação há mais de cinco meses, a federação entre o União Brasil e o PP segue enroscada. Há diversos dilemas que travam as negociações e que envolvem principalmente para qual lado penderá a posição da legenda que, unida, formará uma superbancada de 108 deputados.
Dentro desse balaio, os principais articuladores da federação, modelo que exige uma aliança por pelo menos quatro anos, sabem que haverá congressistas que usarão a força política da legenda para pressionar o governo e angariar mais espaço na gestão federal. O problema é que também há ali adversários ferrenhos do PT e que não querem integrar uma base governista.
Por ora, a ideia é que a federação adote uma posição de independência diante do governo Lula. Em busca de evitar qualquer debandada surpresa – seja para um lado, seja para outro -, entrou na mesa de discussão a determinação de um poder de veto para temas relativos a mudanças internas, como a adesão à base governista, a formação de coligações e o lançamento de candidaturas. A proposta vem sendo capitaneada por caciques do União.
Por esse desenho, qualquer definição institucional teria de ter o aval das duas legendas. Por outro lado, as negociações no varejo, como a ofertas de ministérios negociadas diretamente com os parlamentares, seguiriam acontecendo no ritmo atual. Ou seja, manteria a confortável posição de a legenda declarar uma neutralidade, mesmo ocupando espaços privilegiados no governo. “É claro que um bloco como esse se torna quase que inevitável em qualquer mesa política – municipal, estadual ou federal. Esse é o ponto mais relevante”, resume um membro do União.
Outro ponto que tem travado as negociações é o temor, de ambos os lados, de perda de influência interna. Articuladores da aliança apontam o deputado Luciano Bivar, presidente do União que tentou uma aproximação com Lula, como um dos principais focos de resistência justamente porque, em sua avaliação, iria acabar sem o mesmo poderio diante de figuras como Ciro Nogueira, um dos expoentes máximos do Centrão e opositor ao governo petista.
Costuras locais também emperram a formação da federação. No Paraná, por exemplo, estariam aliadas figuras como Sergio Moro (União), ex-juiz da Lava-Jato e agora senador, com o deputado licenciado Ricardo Barros (PP), crítico figadal à operação e ao próprio Moro.
Outrora aliado de Bolsonaro, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) também trabalha contra a parceria União-PP. Para ele, o superpartido significaria uma ameaça à sua onipresença no novo governo – o senador amapaense indicou todos os três ministros do União e, no Planalto, há um receio de que a nova força política acabe elevando a pressão por mais espaço, o que, por consequência, espalharia o poder que ficou concentrado em Alcolumbre.
“Um processo como esse não se concretiza sem algumas vítimas. Resta a gente avaliar agora, nessas próximas duas semanas, se nós estamos dispostos a comprar o desgaste com quem não quer a federação”, afirma um dos principais articuladores da união partidária.