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Último dos tucanos, Eduardo Riedel entra na mira de gigantes partidários

O governador de Mato Grosso do Sul é procurado por grandes 'predadores' do mundo político

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 Maio 2025, 15h46 - Publicado em 18 Maio 2025, 08h00

Mato Grosso do Sul abriga dois terços do Pantanal, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta, conhecido por suas onças, jacarés, tuiuiús e mais de 1 000 espécies de animais, sendo 463 somente de aves. Muitas delas correm risco de extinção, mesma ameaça que paira sobre o último espécime que fez do estado seu derradeiro ninho: o tucano — não o bonito pássaro de bico colorido que já vive na região e em outros locais do Brasil, mas o político que carrega essa alcunha por ser filiado ao PSDB. Com sua representação minguando no cenário nacional, o partido tem hoje em território sul-mato-grossense seu único governador, Eduardo Riedel, e uma rara hegemonia, com mais da metade dos prefeitos do estado (veja o quadro).

Não à toa, o espécime está na mira de grandes “predadores” do mundo político. Tucano desde sempre, Riedel é disputado por três importantes aglomerados partidários e, segundo aliados, deverá decidir em breve para qual novo ninho baterá as asas. As motivações são as costumeiras nos jogos de poder: promessas de mais protagonismo, sobretudo ao se aproximar as eleições de 2026, quando vai tentar novo mandato. Formado em ciências biológicas e mestre em zootecnia, Riedel é carioca, mas vive no Mato Grosso do Sul desde os 26 anos de idade (hoje tem 55), quando passou a gerir uma propriedade rural da família. O cargo que ocupa é o primeiro eletivo na curta carreira política, mas seu futuro deverá mexer com o destino dos prefeitos do PSDB, que comandam 44 das 79 cidades do estado.

arte tucanos

Embora seja o tucano solitário da federação, Riedel não foi o único governador eleito pelo PSDB. Outros dois — Raquel Lyra (Pernambuco) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) — foram para o PSD seduzidos pelo projeto de expansão tocado por Gilberto Kassab, presidente da legenda e responsável pelo assédio mais firme ao sul-mato-grossense. A avaliação é que é questão de tempo a migração de Riedel para a sigla, até porque ele seria o cacique do partido no estado, onde o PSD tem hoje só três prefeitos. No PSDB, ele sofre a concorrência de Reinaldo Azambuja, ex-governador e padrinho político. “Ele (Riedel) vai poder construir um partido seu, do zero, e tornar-se o rosto e a liderança dessa sigla. E a maior parte dos prefeitos o acompanharia, o que já lhe garantiria boa vantagem”, acredita um aliado.

Conhecido como um político que costura muito bem seus objetivos nos bastidores, Kassab tem concorrência pesada. Uma delas é a do PL, do ex-­presidente Jair Bolsonaro, que já se aliou a Riedel na eleição municipal de 2024, quando o bolsonarismo cerrou fileiras em torno de Beto Pereira, o candidato tucano à prefeitura de Campo Grande (que nem foi ao segundo turno). Aliados afirmam que as conversas estão até mais avançadas com o PL. Na próxima semana, inclusive, está marcada uma reunião em Brasília de Riedel e Azambuja com Bolsonaro, o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e o senador Rogério Marinho, secretário-geral da sigla e responsável pelas articulações.

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O JOGADOR - Kassab com Leite: cacique investe firme em novas filiações
O JOGADOR - Kassab com Leite: cacique investe firme em novas filiações (Mauricio Tonetto/Palácio Piratini/.)

O flerte com Riedel também vem de perto. Outra liderança da direita nacional, a senadora Tereza Cristina, presidente estadual do PP e futura comandante do braço local da federação com o União Brasil, é muito próxima de Riedel e está aberta a receber o tucano. O PP é o segundo partido em número de prefeitos no estado (dezesseis) e governa a capital, com Adriane Lopes, aliada da senadora. Por ora, sem rivais no horizonte, Riedel lidera as pesquisas. “Agora ele está voando em céu de brigadeiro, mas, conforme adversários forem aparecendo, ficará evidente a necessidade de um apoio declarado e garantido”, diz um mandatário do PP. Riedel já conversou com a direção nacional do PSDB e se comprometeu a esperar a finalização da fusão do partido com o Podemos — que poderá abrir caminho para uma federação com Republicanos ou MDB.

Criado em 1977, Mato Grosso do Sul é um dos mais jovens estados do país. Seu primeiro governador tucano veio apenas em 2014, com a vitória de Azambuja, quando a sigla já tinha viés de baixa — fez cinco governadores, três a menos que na eleição anterior. Em 2018 perderia a primazia do eleitorado antipetista para Bolsonaro e, pela primeira vez desde 1989, não teve nem o vencedor nem o segundo colocado na corrida presidencial. Em 2022, cravou outro ineditismo negativo ao não lançar candidato à Presidência — até por isso, elegeu apenas treze deputados federais (no auge, com FHC, chegou a 99). Na disputa municipal de 2024, não fez nenhum prefeito de capital. Agora, na fusão com o Podemos, estuda abandonar o tucano como símbolo. A revoada no Pantanal, nesse contexto, será apenas mais um capítulo, talvez o final, da rápida extinção de um dos partidos mais importantes da democracia brasileira.

Publicado em VEJA de 16 de maio de 2025, edição nº 2944

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