Em reunião com dirigentes da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), o presidente interino Michel Temer (PMDB) falou nesta quarta-feira em realizar um redimensionamento dos ministérios depois do fim do processo de impeachment, segundo o intermediador do encontro, deputado Paulinho da Força (SD-SP). Os dirigentes do movimento social disseram a Temer que reconhecem a legitimidade do governo interino, em contraponto a outros grupos ligados ao PT que acusam Temer de “golpe”.
“A palavra do presidente Temer é que assim que terminar o processo de impeachment ele quer fazer uma rediscussão dos ministérios. Ele reduziu dez”, disse o deputado e presidente da Força Sindical. “O movimento apresentou uma pauta que inclui a volta do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). O presidente disse que só vai discutir isso e todo o ministério dele, uma reformulação no ministério, após o término do impeachment.”
Temer recebeu nesta tarde, no Palácio do Planalto, os dirigentes da FNL Carlos Lopes e José Rainha – ex-líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) que contou na reunião que não pisava na Presidência desde 2004. Ele é amigo do ex-presidente Lula, mas nunca se entendeu com a presidente afastada Dilma Rousseff. Essa foi a primeira reunião de Temer com movimentos sociais de esquerda.
Lopes relatou a promessa de Temer de rever a extinção do MDA, cujas atribuições foram para o Ministério do Desenvolvimento Social e para a Presidência. “O campo não aceitará a extinção do MDA. O presidente disse que da forma que se encontrava precisava fazer a repactuação pública tendo em vista o déficit econômico do país e que assume o compromisso de, junto com as classes e representatividades do campo, construir a condição para que o MDA volte.”
Conforme o líder da FNL, Temer se colocou “atento e vigilante” e respondeu que a pauta deles está nas prioridades do governo. Lopes disse que a FNL e a Conafer [Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais] reconhecem o governo Temer e entenderam a explicação dele para discutir apenas depois do impeachment a recriação do ministério. “Vocês sabem que o Brasil vive a necessidade do fim do processo de impedimento de um presidente da República. Não dá para chegar aqui pedindo a um interino para fazer”, disse Temer.
Lopes e Rainha entregaram a Temer e ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, uma carta em que dizem que agricultores familiares ficaram à margem de promessas há mais de oito anos no governos Lula e Dilma Rousseff e “aguardam sinal positivo do atual governo”. Eles cobram aumento no orçamento do setor para 3,5 bilhões de reais por ano, transformação no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Política Agrária (Impa), com reestruturação física e administrativa e liberação de recursos para aquisição de alimentos de pequenos agricultores, entre outros. “O campesinato brasileiro não irá aceitar, seja do governo que se foi ou do governo que chegou, a extinção da agenda do campesinato brasileiro. A reforma agrária acontecerá sim”, disse Carlos Lopes.