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Tasso Jereissati se coloca como opção do PSDB para a Presidência em 2022

O político articula em busca de musculatura e acaba de receber o apoio de FHC

Por Gabriel Mascarenhas Atualizado em 4 jun 2024, 13h50 - Publicado em 14 Maio 2021, 06h00

Governador do Ceará por três vezes e no final do segundo mandato como senador, Tasso Jereissati não se arrisca numa eleição para um cargo executivo desde 1999, quando foi escolhido nas urnas para comandar seu estado pela última vez. Passados sete anos na zona de conforto do Legislativo, onde as excelências podem escolher as batalhas que vão abraçar, o tucano conhecido pela voz baixa e pelo invejável saldo bancário (quase 400 milhões de reais em bens declarados) começou a se mover na direção do que deverá ser o maior desafio de sua vida pública: a disputa pela Presidência da República no ano que vem. Para tirar o plano do papel, falta convencer uma porção de gente, dentro e fora do seu partido, de que ele é o personagem ideal para unir as forças da centro-­direita, liderando uma chapa capaz de chegar ao segundo turno e, o mais importante de tudo, amealhar votos suficientes para ultrapassar os favoritíssimos Jair Bolsonaro ou Luiz Inácio Lula da Silva. O próprio Jereissati ainda resiste a bater o martelo. Adianta que só o fará se tiver a certeza de que será competitivo. “Sei que seria um bom presidente, mas, antes, preciso saber se sou um bom candidato”, costuma dizer aos aliados.

APOIO - Fernando Henrique Cardoso, em declaração a VEJA: “Prefiro o Tasso” -
APOIO - Fernando Henrique Cardoso, em declaração a VEJA: “Prefiro o Tasso” – (Paulo Vitale/VEJA)

Seu nome entrou no páreo de forma surpreendente nas últimas semanas, lançado pelo pernambucano Bruno Araújo, o presidente do PSDB. Inicialmente, nos bastidores, o movimento soou como uma espécie de tiro de alerta aos presidenciáveis tucanos mais afoitos. A entrada em cena do cacique mostraria que o partido não abre mão de um nome com potencial de caminhar para uma solução consensual, em vez de dar corda a uma disputa interna capaz de rachar a legenda e afugentar aliados de fora do ninho. Os já declarados postulantes do PSDB ao Palácio do Planalto são João Doria, governador de São Paulo (e inegavelmente o quadro mais forte da legenda hoje), e o jovem governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que tem no próprio senador cearense um dos seus principais aliados, além do azarão Arthur Virgílio, ex-senador e ex-prefeito de Manaus.

O que parecia um balão de ensaio com objetivo meramente apaziguador, no entanto, começou a ensaiar um voo mais alto. Definitivamente, Jereissati está no jogo. Logo nos primeiros movimentos, ele já angariou apoios importantes para a empreitada. O principal vem do maior nome do seu partido: Fernando Henrique Cardoso. O ex-­presidente desce do muro ao responder quem considera mais preparado entre Jereissati e Doria, embora aponte credenciais e se diga amigo de ambos. “Eu prefiro o Tasso”, disse FHC a VEJA, sem rodeios. “Ele conhece mais o Brasil, é mais fácil de ser popular e de encarnar essa coisa de centro”, emendou o presidente de honra do PSDB. Mas o principal patrocinador do projeto Jereissati ocupa a cadeira mais importante do partido: Bruno Araújo. Oficialmente, ele evita a crise que se instalaria caso bradasse sua preferência, mas sonha em ver o colega nordestino como opção na urna.

NO PASSADO - Ciro e Jereissati: apesar das boas relações, antiga aliança não deve se repetir na disputa do ano que vem -
NO PASSADO - Ciro e Jereissati: apesar das boas relações, antiga aliança não deve se repetir na disputa do ano que vem – (Acervo do Instituto Queiroz Jereissati/Divulgação)
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Para além do ninho tucano, outros personagens de peso da política nacional estimularam o congressista cearense. Há três semanas, Jereissati procurou Luciano Huck, com quem mantém contato frequente, para atualizá-lo de seus planos presidenciais. O apresentador encorajou a entrada de Jereissati no páreo, embora ele mesmo continue sendo ventilado como concorrente (uma hipótese cada vez mais distante diante da iminência do anúncio de um novo contrato de Huck com a Rede Globo). No partido, Eduardo Leite foi uma das primeiras pessoas para quem o senador telefonou após o movimento de Bruno Araújo. Queria confirmar ao correligionário que a tacada não era apenas um devaneio do mandatário do PSDB. Dada a excelente relação que tem com Jereissati, Leite não vê constrangimentos se o aliado resolver entrar no jogo, mas não promete tirar seu time de campo. “Não teria problema algum em disputar prévias com Tasso. Ao fim, eu e ele nos entenderemos”, resume. Fora do partido, um dos integrantes do grupo que trabalha pela união do centro democrático, o ex-ministro da Saúde e pré-candidato pelo DEM Luiz Henrique Mandetta, confidenciou a pessoas próximas ver como positivo os movimentos do tucano. Já outro participante da mesma turma, Ciro Gomes (PDT), eleito governador do Ceará em 1990 com o apoio de Jereissati, seu sucessor no posto, não emitiu nenhum sinal de que abriria mão da disputa em favor do antigo padrinho político. E nem o padrinho enxerga essa possibilidade. “Ciro já andou demais, não o vejo fora do jogo”, sintetiza o senador. A difícil equação com Ciro vai frustrar parte do PSDB, mais precisamente a ala que apostava que o correligionário poderia convencer o pedetista a apoiá-lo. Não é o caso.

Mas se há espaço político e apoiadores, o que precisa acontecer para Jereissati desencarnar do papel do político hesitante e confirmar sua pré-candidatura? “Preciso sentir que sou a pessoa que tem mais capacidade de agregar”, afirmou ele a VEJA. Até agora, o senador tem articulado aqui e ali com aliados em potencial, conversado com representantes do setor produtivo e dado entrevistas em que se insinua, mas não sacramenta sua intenção. Ao fim delas, costuma telefonar aos amigos para aferir seu desempenho. Mesmo em conversas privadas, resiste a se declarar postulante. Essa é uma das mais conhecidas características do personagem em questão. Ele costuma se esgueirar de disputas de grande porte, mesmo quando seu entorno o incentiva. Foi assim na eleição para a presidência do Senado deste ano, que ele não disputou.

FAVORITO - Doria: o governador tem a vantagem da vacina e do peso de São Paulo -
FAVORITO - Doria: o governador tem a vantagem da vacina e do peso de São Paulo – (GovernoSP/Divulgação)
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Desta vez, porém, Jereissati não só vem admitindo a possibilidade de concorrer à Presidência, como tem se mostrado cada vez mais entusiasmado. Empresário bem-sucedido, ele já se preparava para a aposentadoria ao fim do atual mandato, no ano que vem. A ausência de um nome capaz de desbancar Lula e Bolsonaro, mas, sobretudo, o cenário em que seria obrigado a apoiar João Doria estimulam Jereissati. Não só ele. A rejeição ao governador de São Paulo, dentro e fora do PSDB, é inegavelmente um elemento fundamental para o congressista começar a descer do muro — ou ser empurrado dele.

O próprio presidente do PSDB tem resistências a Doria, que tentou tomar o comando da legenda no início deste ano, sem sucesso. Araújo passou a se mexer efetivamente em direção a uma chapa encabeçada por Jereissati ao saber que o Podemos estava flertando com Eduardo Leite, o outro pré-candidato do PSDB. Se o governador gaúcho deixasse a legenda, Araújo ficaria sem alternativa a Doria. Foi aí que ele teve uma conversa definitiva para que Jereissati topasse botar a cabeça fora d’água. Uma numerosa parcela do tucanato, sobretudo do Norte e Nordeste, anda ávida por viabilizar um nome que não seja o do governador paulista. Além da antipatia pessoal que ele provoca em parte dos correligionários, seu desempenho tem estimulado os pragmáticos a especular outras opções do centro, entre elas Jereissati. No levantamento feito pela Paraná Pesquisas, publicado por VEJA na edição da semana passada, Doria está em sexto lugar, com tímidos 3,6%. Levantamento do Datafolha divulgado na quarta-feira 12 confirmou o favoritismo de Lula e Bolsonaro para chegar ao segundo turno e as dificuldades do centro. Nenhum candidato desse espectro atinge dois dígitos das intenções de voto, e Doria também aparece em sexto. FHC, por exemplo, prega com frequência: “Eu respeito quem tem voto”. Nesse ponto, aliás, Jereissati terá muito também que provar. Nos últimos anos, seu grupo político não consegue ser majoritário nem no próprio reduto eleitoral, o Ceará, cujo governo está nas mãos de Camilo Santana, do PT. No plano nacional, ao menos até agora, nada indica que ele tenha capilaridade.

DESCONFIANÇA - O gaúcho Leite: o aceno do Podemos acendeu sinal de alerta -
DESCONFIANÇA - O gaúcho Leite: o aceno do Podemos acendeu sinal de alerta – (Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini/.)
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Por outro lado, o senador reúne ativos nada desprezíveis. Experiente e tido como habilidoso, está na vida pública há 35 anos sem ter sido atingido por grandes mísseis, ao contrário de boa parte de seus correligionários, cuja biografia foi enterrada em escândalos. Além disso, é uma liderança nordestina, o que tende a ser um elemento relevante nas próximas eleições — o pai de Doria nasceu na Bahia, mas ele não tem nenhuma identificação com o estado. A região, historicamente lulista, tem visto Bolsonaro ganhar campo após o lançamento do auxílio emergencial durante a pandemia. Agora, se tais predicados vão se converter em votos, nem Jereissati sabe, como ele mesmo admite. Mais do que isso: ninguém se surpreenderá caso ele não avance para além do traço nas pesquisas.

A estratégia de Jereissati é vencer de fora para dentro do PSDB. Pretende conquistar apoios para além do seu partido e chegar às prévias da legenda como um nome capaz de atrair lideranças de diferentes correntes em torno de seu projeto eleitoral e, com isso, começar a aparecer bem nas pesquisas. No quintal tucano, ele e os entusiastas de sua candidatura apostam que a rejeição a Doria se revelará em números na disputa interna, apesar de se tratar do governador do estado que tem o maior número de votos no Diretório Nacional e a CoronaVac como trunfo. “Doria acha que o PSDB é uma empresa e ele, o CEO dessa empresa, que nomeou todo mundo. Não está certo, mas, ainda assim, é governador de São Paulo e trouxe a vacina. Não vai perder as prévias”, aposta um deputado federal peessedebista. As próprias prévias já começaram com discórdia. Doria defende a tese de que o voto de cada filiado tenha a mesma relevância — São Paulo contém a maior parte deles. Leite, por sua vez, quer que tucanos com cargos e postos no partido tenham mais peso na eleição. Uma comissão interna foi montada para definir o formato da disputa, marcada inicialmente para outubro. O governador paulista jura que continuará na sigla mesmo se for derrotado, apoiando automaticamente o vencedor, mas dentro do partido há o temor de que ele quebre a promessa, pulando fora da legenda para não abrir mão de sua intenção de concorrer ao Palácio do Planalto em 2022. Sem dúvida, a entrada em cena de Tasso Jereissati era o que faltava para colocar fogo de vez no agitado ninho tucano.

Publicado em VEJA de 19 de maio de 2021, edição nº 2738

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