Witzel lamenta morte de Ágatha, mas vê Rio ‘no caminho certo’
Três dias depois do caso, governador se pronuncia, afirma que sua gestão 'não tem nada a esconder' e diz que episódio não deve ser usado como 'palanque'
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), quebrou o silêncio sobre a morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, três dias depois do caso. Nesta segunda-feira, 23, Witzel convocou um pronunciamento e lamentou a morte da criança de 8 anos, baleada dentro de uma kombi no Complexo do Alemão próximo a um local que era alvo de operação policial. O político, porém, defendeu sua política de segurança pública, afirmou que o Estado está “no caminho certo” e que “é indecente usar um caixão como palanque”.
“Eu também sou pai, mas não posso dizer aqui que sei o tamanho da dor que os pais da menina Ágatha estão sentindo. Mas sei que jamais gostaria de passar por um momento como esse”, afirmou o governador, que se emocionou durante a fala. “Eu presto a minha solidariedade aos pais e aos familiares, que Deus a receba, um anjo que se foi e certamente deixará saudade. Ela deixou planos e projetos para os seus pais que com elas não se realizarão mais.”
O governador justificou sua demora em se manifestar sobre o episódio. “Eu aguardei, fiz varias ligações até que eu pudesse fazer o juízo”, afirmou. Witzel rechaçou que tenha sido insensível ao aguardar para se pronunciar. “Eu lamento profundamente a perda. Meu sentimento é de pai. Olhando a minha filha você acha que eu não choro? Eu sou pai. Eu tenho meus filhos em casa. Eu não sou desalmado, tenho sentimentos.”
Witzel afirmou que, durante o fim de semana, conversou com autoridades federais sobre o caso – o governador citou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – e afirmou ainda que cobrou rigor nas investigações da morte de Ágatha. “Mas eu assevero que seria até desnecessário porque confio no trabalho das organizações democráticas, não só PM e Polícia Civil, mas também do Ministério Público.” Witzel frisou ainda que sua gestão “não tem nada a esconder”. Segundo ele, o estado prestará apoio psicológico, financeiro e jurídico à família da criança.
‘No caminho certo’
Mesmo lamentando a morte de Ágatha, o governador defendeu sua política de combate ao crime e declarou que “um caso isolado” não pode alterar o trabalho. “Eu tenho a certeza que nós vamos superar as dificuldades como nós estamos superando porque eu tenho certeza que estamos no caminho certo”, disse ele. “Estamos tendo resultados significativos. Se não fosse isso hoje, teríamos mais de 800 pessoas mortas. Isso a população tem sentido.” Witzel acrescentou que espera que mortes como a de Ágatha “não sejam usadas de palanque eleitoral pela oposição”.
Silêncio anterior
Ao longo do fim de semana, Witzel não tratou diretamente do caso nem mesmo em suas redes sociais: no domingo, 22, postou no Twitter uma mensagem de congratulações ao município de São Gonçalo, que completava 129 anos, e um comentário sobre o Dia Mundial sem Carro.
Também no domingo, o governo do Rio publicou nota em que lamentava “profundamente” a morte da menina. O comunicado reproduzia a versão divulgada pela Polícia Militar, a de que, na noite de sexta-feira, quando Ágatha foi atingida, PMs haviam revidado ataques sofridos no Complexo do Alemão. A família da vítima nega que tenha ocorrido qualquer conflito.
Ágatha foi atingida quando estava com o avô em uma kombi na favela Fazendinha, no Complexo do Alemão, onde a família mora. Segundo testemunhas, ela estava sentada no veículo quando policiais militares atiraram em uma moto e atingiram o veículo, baleando a criança. Ela chegou a ser levada para a UPA do Alemão e transferida para hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos.
O governo do Estado também informou que os policiais que estavam de serviço entregariam suas armas e seriam ouvidos pela Polícia Civil ainda nesta segunda, 23. O projétil que atingiu Ágatha foi recolhido pelos investigadores.