Sob pressão de Lula e do mercado, Haddad avança de meio-termo em meio-termo
Ministro impulsiona sua agenda equilibrando as conveniências políticas do presidente com as demandas de investidores e empresários por rigor fiscal
O cargo de ministro da Fazenda implica uma certa solidão. Enquanto os colegas de governo querem recursos para tocar obras e projetos, e os parlamentares pressionam por verbas para seus redutos eleitorais, o chefe da equipe econômica trabalha para controlar despesas e colocar as contas em ordem. Isso, claro, se for minimamente responsável.
À frente da Fazenda, Fernando Haddad se equilibra como pode entre interesses diversos. Aos trancos e barrancos, ele tem conseguido tirar do papel pontos de sua agenda fiscal — não da forma como gostaria o mercado, que demanda um corte consistente nas despesas, e também não da maneira defendida pelo PT, fiel seguidor da cartilha segundo a qual o gasto público tem de ser motor do crescimento.
Com o aval de Lula, Haddad se tornou um especialista em meios-termos, em acordos que, se não são irretocáveis tecnicamente, são os possíveis politicamente. O novo pacote é um exemplo disso. Não houve desvinculação entre salário mínimo e benefícios previdenciários, como queria o mercado, mas foi adotado um teto na política de valorização do mínimo, a menina dos olhos de Lula.
O ministro também não conseguiu reduzir de forma expressiva benefícios tributários e isenções, mas incluiu no pacote um gatilho que, se aprovado, impedirá a criação ou prorrogação de incentivos a empresas caso as contas públicas fiquem no vermelho.
Bala de prata
Negociado durante quatro semanas, o pacote foi considerado tímido ou insuficiente por especialistas, diante do crescimento acelerado das despesas obrigatórias, que precisa ser contido sob pena de inviabilizar o funcionamento da máquina pública num futuro próximo. Na prática, o plano anunciado adia a solução do problema, dando um pouco de fôlego para Lula e Haddad sobreviverem, do ponto de vista fiscal, até 2026.
O ministro sabe disso, tanto que declarou que novas iniciativas podem ser apresentadas caso seja necessário. Não há bala de prata, afirmou, reforçando a sua estratégia de tentar equilibrar o caixa de forma gradual, até para não melindrar o presidente e o PT, que cobram dele respeito ao que chamam de programa econômico vitorioso nas urnas.
Sob pressão permanente, Haddad vai resistindo às suas sucessivas batalhas, dentro e fora do governo.