Senador sondado para golpe diz que vai renunciar ao mandato
Marcos Do Val revelou ter sido chamado a participar de uma armadilha que desencadearia a anulação das eleições e a manutenção de Bolsonaro no poder
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) anunciou nesta quinta-feira, 2, que deixará em definitivo a política. O comunicado de renúncia do parlamentar ocorre após VEJA publicar com exclusividade que ele foi procurado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo ex-deputado Daniel Silveira (PL-RJ) com a missão de gravar clandestinamente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O plano, arquitetado em uma reunião no dia 9 de dezembro no Palácio do Alvorada, consistia em induzir Moraes a admitir supostos atropelos legais contra bolsonaristas, o que seria o estopim para que as eleições de outubro fossem anuladas, Bolsonaro não deixasse o cargo de mandatário do país e o magistrado fosse preso em uma operação coordenada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Do Val ouviu o plano e não respondeu de pronto. Instantes antes ele havia enviado uma mensagem ao próprio Alexandre de Moraes afirmando que iria se encontrar com Silveira e com o então presidente. Àquela altura, o parlamentar considerava que, se não avisasse o magistrado, poderia ser colocado no mesmo balaio que os outros dois, alvos de inquéritos no STF que apuram, entre outras coisas, atos antidemocráticos e ameaças a integrantes do tribunal.
No dia 12 de dezembro, ainda sem dar uma resposta definitiva a Daniel Silveira se aceitaria a missão dada por Bolsonaro, o senador enviou nova mensagem a Moraes. Dizia ter um “assunto grave” a tratar. Dois dias depois, no Salão Branco do STF, ambos ficaram frente a frente, e Marcos do Val contou o plano ao ministro. Na manhã desta quinta, Daniel Silveira foi preso em Petrópolis por ordem de Alexandre de Moraes. Segundo o ministro, o ex-parlamentar tem desrespeitado reiteradamente ordens para interromper manifestações em que ataca o STF e adotado posturas que “revelam o seu completo desprezo pelo Poder Judiciário”.
Em postagem nas redes sociais em que anunciou que deixaria a vida pública, Marcos do Val disse que sofreu ameaças e ataques e que voltará a trabalhar nos Estados Unidos, onde atuava como instrutor de segurança.