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Prisão ‘à la Lava-Jato’ e o cálculo da delação de Anderson Torres

Ex-ministro da Justiça completa 100 dias detido, já perdeu 12 quilos, está depressivo e começou a colaborar informalmente com a Justiça

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 abr 2023, 17h20 - Publicado em 24 abr 2023, 10h57

Considerado peça-chave para esclarecer a eventual participação do ex-presidente Jair Bolsonaro como mentor ou estimulador dos atos de depredação de 8 de janeiro, o ex-ministro Anderson Torres completa nesta segunda-feira, 24, a marca de cem dias preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes. O caso do ex-secretário de Segurança Pública, que recentemente teve novo pedido de soltura negado e é a única alta autoridade ainda detida, tem trazido à tona críticas que remontam à Operação Lava-Jato, quando prisões preventivas alongadas eram tidas como um mecanismo para forçar investigados a colaborar com a Justiça por meio de delações premiadas. Anderson já perdeu 12 quilos e enfrenta uma crise de depressão profunda, de acordo com seus advogados.

Embora a defesa do ex-ministro negue peremptoriamente a possibilidade de ele aderir a uma delação, o problema de fundo é que conselheiros de Torres dizem que, mesmo que ele topasse, é razoável o risco de a colaboração acabar sendo descartada. Por razões como essa, a estratégia do entorno do ex-ministro é colaborar com a Justiça sem nenhum acordo formal de delação. O primeiro passo foi dado quando ele encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma lista de senhas que permitem acessar e-mails e a nuvem do celular que ele diz ter perdido pouco antes de ser preso. Em uma nova frente de investigações, Torres iria depor na tarde de hoje no inquérito que apura se operações da Polícia Rodoviária Federal no 2º turno tiveram por objetivo impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação. A defesa conseguiu adiar a oitiva.

Segundo interlocutores de Anderson Torres, depoimentos em uma eventual delação premiada junto ao Ministério Público não bastariam porque dificilmente o ex-auxiliar de Bolsonaro teria documentos, gravações ou qualquer tipo de elemento de corroboração que pudesse endossar suas revelações. Como eventuais atos preparatórios da invasão das sedes dos Três Poderes ou de projetos golpistas do ex-presidente, se existirem, ocorreram há um espaço considerável de tempo, o mero depoimento de Anderson nesses casos teria pouca serventia. “Já anulamos muitos acordos por falta de elementos de corroboração. Só a palavra dele não tem eficácia e ele se queimaria por eventualmente confessar algo”, diz um advogado próximo do ex-ministro.

Em um cenário hipotético, a partir das delações que Torres fizesse à Justiça, os investigadores teriam de fazer interceptações telefônicas ou buscas em endereços de alvos. Como os fatos potencialmente nebulosos ocorreram ainda em 2022, de nada adiantaria hoje grampear suspeitos ou tentar apreender documentos que muito provavelmente estariam destruídos. Diante desse raciocínio, descrito por um interlocutor que tem acompanhado a prisão do ex-ministro, há quem diga que não é porque Anderson Torres não tenha exatamente o que dizer em uma eventual delação, e sim que a colaboração, por falta de documentos, ficaria capenga. E, de quebra, ainda poderia se virar contra ele.

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