Postura olímpica de Lula será testada nas eleições municipais
Desafio do presidente é resistir à tentação de privilegiar o PT e não melindrar as legendas que lhe dão apoio na administração federal

Em seus dois mandatos presidenciais anteriores, Lula costumava dizer que não se envolveria nas eleições municipais, a não ser, claro, quando houvesse uma disputa entre um aliado e um oposicionista. No próximo ano, é provável que siga o mesmo receituário, mas, mesmo com todos os cuidados que precisa ter para não melindrar integrantes da frente ampla que apoia o governo, ele tentará cumprir pelo menos dois objetivos.
O primeiro, mais imediato, é redimir o PT, que em 2020 elegeu apenas 183 prefeitos, o pior desempenho do partido neste milênio. O segundo, de médio prazo, é costurar acordos que permitam o crescimento também de outras legendas governistas, de forma que a aliança como um todo saía fortalecida. Por ordem do presidente, o PT deve abrir mão de concorrer, por exemplo, no Rio de Janeiro e no Recife, compondo com candidatos do PSD e do PSB, respectivamente.
A um ano das eleições, quando as campanhas ainda não tomaram as ruas, o plano de Lula de adotar uma postura olímpica parece de fácil execução, mas não é. Em grandes colégios eleitorais, haverá embates diretos entre apoiadores do presidente, cuja missão é impedir que tais duelos municipais causem turbulência na administração federal, atrapalhem a governabilidade e prejudiquem a sua provável campanha à reeleição.
Em São Paulo, por exemplo, o PT assumiu o compromisso de apoiar a candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura, hoje comandada por Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição. Lula já deu declarações favoráveis a Boulos, que concorrerá também com outro nome do campo da esquerda, a deputada federal Tábata Amaral (PSB), defendida com entusiasmo pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
Em Belo Horizonte, o PT formalizou a pré-candidatura do deputado federal Rogério Correia, que tentará impedir a reeleição do prefeito Fuad Noman, filiado ao PSD, partido que controla três ministérios, preside o Senado com Rodrigo Pacheco e é comandado por Gilberto Kassab, influente secretário do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um dos principais líderes da oposição a Lula.
O desafio do presidente é resistir à tentação de privilegiar o PT e não melindrar as legendas que lhe dão apoio na administração federal. A vitória que interessa a Lula é em 2026 — de preferência, com o apoio de uma ou duas dezenas de partidos.