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Partidos de centro com ministérios no governo sinalizam oposição a Lula em 2026

Em inserções na TV e no rádio, siglas fazem críticas à gestão atual, exaltam rivais do presidente e indicam que podem não estar com o petista na eleição

Por Heitor Mazzoco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 jun 2025, 08h00

Em 2003, quando iniciou seu primeiro ano na Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva tinha o apoio de nada menos que onze das quinze legendas na Câmara. Embora contasse com uma frente ampla na Esplanada e no Congresso, ele imaginava que teria de reproduzir o máximo possível essa aliança na eleição seguinte, quando faria nova disputa contra o bloco oposicionista liderado pelo PSDB. No primeiro semestre de 2006, chegou a oferecer a vaga de vice-presidente, que estava com José Alencar (do então pequeno PL), para o gigante PMDB liderado pelo governador Orestes Quércia. O esforço, no entanto, não vingou e Lula foi para a reeleição abraçado apenas pelo PT e pelos minúsculos PCdoB e PRB (hoje Republicanos). Quase vinte anos depois, às vésperas de buscar outra recondução ao cargo, o petista convive dramaticamente com a possibilidade de ver, de novo, boa parte dos partidos que ocupam cadeiras ministeriais subir nos palanques da oposição. Uma amostra desse movimento está nas inserções partidárias obrigatórias de rádio e TV feitas pelos principais partidos de centro nos últimos dias, cujo tom é o de quem, apesar de integrar o governo, caminha firme para bem longe dele.

Um exemplo bastante claro é o do PSD, liderado pelo aliado de todo mundo, Gilberto Kassab. A sigla, que tem três ministérios com Lula, gastou suas peças de marketing em São Paulo para exaltar o governador Tarcísio de Freitas, visto como o principal nome para enfrentar Lula na eleição do ano que vem, diante da inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. As propagandas elogiam o trabalho do governo estadual e mostra o chefe do Poder Executivo paulista em obras variadas, fazendo vistorias e inaugurações e cumprimentando eleitores felizes. A aliança entre os dois — Kassab é secretário estadual de Governo — levou a uma aproximação entre o cacique do PSD e Bolsonaro, antes distantes. Em Presidente Prudente, na quarta-feira 18, o ex-presidente entregou a Kassab a medalha “3is” (“imbrochável, imorrível e incomível”), uma “honraria” criada pelo ex-presidente e reservada aos mais próximos. Kassab publicou o vídeo com a “homenagem” em suas redes sociais.

Enquanto consolida a parceria com Tarcísio, que é do Republicanos, o PSD também faz aceno a seu principal nome caso precise de uma alternativa contra Lula. Nas inserções nacionais, o governador do Paraná, Ratinho Junior, se apresenta ao eleitor de fora do estado (lembra que é filho do apresentador Ratinho e conta a história com o pai nas emissoras de rádio). No discurso, além de mostrar os avanços do estado, defende a propriedade privada e a liberdade pessoal, temas que agradam à direita, mas dá indícios de querer se manter distante da polarização. “Chegou a hora de virar uma página para um Brasil moderno e inovador. Um Brasil sem brigas ideológicas, onde avançamos unidos e em paz”, afirma.

Se o flerte com a oposição é mais indireto nos flashes televisivos do PSD, o mesmo não ocorre com o PP, onde a tônica é de chumbo grosso para cima de Lula. “Se você se decepcionou com a situação do Brasil, se perdeu a esperança e acha que tudo está caro demais e as coisas indo para o rumo errado, você não está só”, diz o presidente da sigla e senador Ciro Nogueira (PP-PI). Na sequência, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) diz que “temos que acreditar na hora da virada”. Em outra inserção, o pré-candidato a senador e secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, critica o avanço do crime e diz que os brasileiros “querem a sua liberdade de volta”. Os alvos do PP são certeiros para desgastar o governo: segundo pesquisa Datafolha deste mês, inflação e segurança são duas áreas em que o eleitor acha que Lula está indo pior do que Bolsonaro. O PP e o União Brasil, que têm votado contra Lula no Congresso, formaram a federação União Progressista, que deve impor a seus filiados o desligamento formal do governo a partir de julho, quando aprovar seu estatuto.

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RACHA - Lula com Pacheco, Fávaro e Silveira: trio do PSD vai seguir com o petista
RACHA - Lula com Pacheco, Fávaro e Silveira: trio do PSD vai seguir com o petista (Ricardo Stuckert/PR)

Outra legenda que não está em sintonia com o governo é o Republicanos, do presidente da Câmara, Hugo Motta — e também o partido de Tarcísio. O presidente da legenda, deputado Marcos Pereira (SP), um político de atuação discreta, tem disparado críticas ao governo. “Sabe o que está sobrando de verdade nos Correios? Incompetência”, disse sobre a gestão da estatal. A gastança do governo também foi alvo. “Velha receita do fracasso: gastar mais do que arrecada”, afirmou. A sigla encaminha uma federação com o MDB, outro partido importante do centro que está no governo, com três ministérios, mas está muito dividido em relação a 2026.

Embora saiba que não terá apoio nacionalmente, muito menos formalmente, da maioria dessas legendas de centro, Lula tem uma aposta: investir na divisão interna das siglas. Enquanto o PSD louvava Tarcísio e Ratinho, Lula ia a Minas Gerais acompanhado de três caciques do PSD: os ministros Carlos Fávaro e Alexandre Silveira e o senador Rodrigo Pacheco, que o petista chamou de “futuro governador”. O apoio dos três é importante porque Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país. No terceiro maior, Rio de Janeiro, a aliança de Lula já está fechada com o prefeito Eduardo Paes, também do PSD, candidato ao governo. Na Bahia, outro estado importante, o PSD é aliado do petismo desde que foi criado e não dá sinais de que vai romper. No União Brasil, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tem três ministérios no governo, o que o habilita a ser um interlocutor na legenda.

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MUDANÇA - Marcos Pereira: político discreto, líder do Republicanos passou a fazer várias críticas ao governo federal
MUDANÇA – Marcos Pereira: político discreto, líder do Republicanos passou a fazer várias críticas ao governo federal (Douglas Gomes/Lid Republicanos/.)

Uma das dificuldades de Lula para levar os partidos de centro a seus palanques é o descompasso entre o discurso do petista e o que pregam essas legendas. As críticas crescentes miram a dificuldade para cortar gastos, a insistência em aumentar impostos, a ameaça da inflação e a falta de perspectiva de uma virada para recuperar a popularidade. Em 2022, quando Lula deu a improvável volta por cima, a sua campanha foi lançada somente com o apoio da esquerda e partidos nanicos, como Avante, Agir e PROS. No segundo turno, atraiu o MDB e lideranças de centro. Após a vitória, a desejada frente ampla ganhou a forma de uma babel partidária, com onze siglas no governo que não apontam para o mesmo lado. As inserções recentes na TV mostram que Lula pode estar “dormindo com o inimigo” na gigantesca e confusa acomodação partidária que montou na Esplanada.

Publicado em VEJA de 20 de junho de 2025, edição nº 2949

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