“José Dirceu foi o mentor do esquema ilícito de compra de votos e, como líder do grupo, determinou as ações necessárias à consecução do objetivo que justificou a união de todos os agentes”
PublicidadeRoberto Gurgel, procurador-geral da República
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As alegações finais do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sobre o mensalão, encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e divulgadas nesta sexta-feira, desmontam o discurso do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Ele era, sim, o chefe da quadrilha.
Roberto Gurgel pediu nesta quinta-feira ao STF a condenação de 36 réus envolvidos no esquema do mensalão. O Supremo deverá estabelecer um prazo para que os advogados dos réus apresentem suas defesas finais. O encaminhamento da votação ainda depende de um pedido para que o processo seja incluído na pauta de julgamentos, ação que caberá ao ministro Joaquim Barbosa, relator do processo.
O petista, ex-homem forte do governo Lula, que sempre usou de certa arrogância para alegar inocência, teve de baixar o tom depois que o parecer veio à tona.
“Quem lê o processo vê que não há nenhuma acusação contra mim”, respondeu ele a Augusto Nunes, colunista do site de VEJA, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nove meses atrás. Durante muitos anos, José Dirceu sustentava a tese de que não havia provas contra ele. Mas há. “As provas coligidas no curso do inquérito e da instrução criminal comprovaram, sem sombra de dúvida, que José Dirceu agiu sempre no comando das ações dos demais integrantes dos núcleos político e operacional do grupo criminoso. Era, enfim, o chefe da quadrilha”, relata o procurador-geral.
O texto não deixa dúvidas. O que fazia Dirceu, nas palavras do chefe do Ministério Público Federal: “Foi o mentor do esquema ilícito de compra de votos e, como líder do grupo, determinou as ações necessárias à consecução do objetivo que justificou a união de todos os agentes, seja no que dizia respeito às negociações travadas com os parlamentares e líderes partidários, seja na obtenção dos recursos necessários ao cumprimento dos acordos firmados. Exercia notória ascendência sobre os demais agentes, especialmente os dirigentes do Partido dos Trabalhadores que integravam a sua corrente política”.
“São meras ilações extraídas de sua interpretação peculiar sobre minha biografia”, justifica agora o petista – que, em texto publicado nesta sexta-feira em seu blog, atribui as acusações, claro, a perseguição política dos “interesses conservadores” – embora não se possa chamar de conservador o procurador Roberto Gurgel, nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defensor, por exemplo, da não-extradição do terrorista Cesare Battisti.
Coordenação – Roberto Gurgel deixa claro como Dirceu, que tanto no partido quanto no governo era a figura mais importante depois de Lula, comandou um intrincado esquema de compra de apoio parlamentar. O mensalão está no DNA do PT. “Provou-se que o acusado, para articular o apoio parlamentar às ações do governo, associou-se aos dirigentes do seu partido e a empresários do setor de publicidade e financeiro a corromper parlamentares”, diz Gurgel sobre Dirceu e suas relações com integrantes do partido e empresários.
Mais do que um esquema alternativo e subterrâneo, o mensalão foi a aplicação de um modus operandi claro, organizado e que contava não só com a chancela, mas com a coordenação de um homem que era, ao mesmo tempo, integrante da cúpula do PT e do governo.