Pacheco é criticado por postura passiva diante de temas decisivos
Lançado candidato à Presidência pelo PSD, o senador é conciliador e moderado. Mas falta de firmeza tem gerado comentários negativos
Bem ao estilo mineiro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, se comporta como um equilibrista na política. Com o avanço da pandemia, ele reclamou da demora do governo para comprar e aplicar vacinas contra a Covid-19, mas evitou fazer críticas diretas à atuação de Jair Bolsonaro, cuja postura negacionista atrapalhou o início da imunização da população. Antes que fosse oficialmente consultado, Pacheco descartou qualquer possibilidade de impeachment — do presidente da República, como defendia a oposição, ou de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como exigiam as milícias digitais bolsonaristas. Em seu primeiro mandato como senador, a prioridade é fugir de polêmicas. Até aqui, sua atuação foi pautada por moderação, falas em defesa da união nacional e pregação contra a polarização — pontos de que o Brasil realmente precisa. A questão é confundir esse discurso de convergência, de equilíbrio, com extrema passividade, algo que vem despertando uma série de críticas do governo e de colegas do Senado ao seu trabalho.
Na semana passada, em evento do PSD, partido ao qual se filiou recentemente, Pacheco finalmente assumiu em público o figurino de candidato ao Palácio do Planalto, dizendo estar pronto — “de corpo, alma, mente e coração” — para reconstruir o país. Detalhe: não será uma tarefa fácil se transformar no principal candidato da terceira via. Atualmente ele tem apenas 1% de intenção de voto e lida com uma rejeição superior a 30%. Além de nomes mais conhecidos do eleitorado, como João Doria e Sergio Moro, ele terá contra si a imagem de alguém que é uma esfinge e muda de lado conforme o vento sopra. Antes de trocar o DEM pelo PSD, o presidente do Senado era considerado um aliado do governo — e deu provas disso ao tentar evitar a instalação da CPI da Pandemia. Os tempos agora são outros, e ele passou a ser tratado como um rival. Numa entrevista recente, Bolsonaro insinuou que Pacheco poderia usar seu cargo para dificultar o trabalho da administração federal. “Quem é o dono da pauta no Senado é o senhor Rodrigo Pacheco. É ele que tem que botar em pauta, assim como quem tem que botar em pauta a possível ida para o Supremo do André Mendonça é o senhor Davi Alcolumbre (DEM-AP)”, declarou Bolsonaro.
Aliado do presidente, o comandante da Câmara, Arthur Lira, por exemplo, não perde uma oportunidade de dar uma estocada em Pacheco, dizendo que ele — talvez por suas pretensões eleitorais — não coloca em votação projetos já aprovados pelos deputados e considerados prioritários, como a reforma do imposto de renda. O fato é que Pacheco tem fugido mesmo do embate direto e sua velocidade — bem lenta — chama atenção. Na semana passada, depois de mais de quatro meses de demora, ele finalmente convenceu Davi Alcolumbre, presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a marcar a sabatina de André Mendonça. Foi a mais longa espera de um indicado ao STF de todos os tempos.
Sua relação com Davi Alcolumbre, aliás, é um dos grandes enigmas do Senado. Pacheco nada faz para contrariar o senador do Amapá, que, diga-se de passagem, foi padrinho da eleição de Pacheco à presidência do Senado. No caso da sabatina, senadores chegaram a apresentar uma questão de ordem pedindo que a aprovação de Mendonça fosse diretamente para o plenário, mas o presidente da Casa simplesmente não aceitou. “O Rodrigo Pacheco está fazendo olhar de paisagem. É um homem sem capacidade de decisão. Será o quê? Ele está com o rabo preso? É dívida eleitoral? Isso está sendo falado no Senado”, disse a VEJA o senador Esperidião Amin (PP-SC). Para o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), a demora para pautar a indicação de Mendonça e de outras autoridades, como integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público e do Conselho Nacional de Justiça, provocou um “desgaste irreversível” para o Senado e comprometeu o funcionamento de diversas instituições, inclusive do Supremo, que, com dez ministros em atuação, passou a lidar com a possibilidade de empate nos julgamentos.
Com a candidatura à Presidência, a expectativa é que o ritmo do presidente do Senado se altere. Ele tem prometido colocar a PEC dos Precatórios em votação até o fim do ano, com a qual o governo pretende financiar o Auxílio Brasil, programa que tem o objetivo de pagar um benefício médio de 400 reais a 17 milhões de pessoas. Resolvida essa questão, restará para a gestão de Pacheco o passivo da suspeita de rachadinha contra Alcolumbre. Em outubro, uma reportagem de VEJA revelou que pelo menos seis mulheres foram contratadas como funcionárias do gabinete de Alcolumbre no Senado com salários entre 4 000 reais e 14 000 reais, mas jamais trabalharam lá. Elas recebiam de 800 reais a 1 350 mensais, e o restante ficava com o próprio gabinete, num esquema que teria rendido 2 milhões de reais ao senador do Amapá.
Em situações normais, um caso como esse renderia investigação pelo Conselho de Ética do Senado. O problema é que o colegiado está desativado desde setembro e, aparentemente, não existe nenhuma disposição da parte de Pacheco para que volte a funcionar. “O Senado está repleto de gente viciada na velha política, no patrimonialismo, no fisiologismo. Todos nós levamos a fama”, reclama o senador Lasier Martins (Podemos-RS). “O Rodrigo Pacheco tem um bom discurso, é um sujeito prudente, mas fica muito em cima do muro. Ele não quer incompatibilidades com nenhum lado, porque quer ser candidato a presidente da República”, acrescenta Martins.
Não há dúvida de que a polarização provocou um efeito nefasto na política brasileira. Problemas reais são ignorados, assim como o debate de ideias para resolvê-los, enquanto ataques a adversários e pirações lisérgicas ganham as redes — provocando grandes estragos na economia. Nesse cenário, um perfil moderado e conciliador, como o de Rodrigo Pacheco, é muito bem-vindo na disputa eleitoral. A armadilha, porém, é sair de um extremo para o outro. O país tem questões urgentes — econômicas, sociais, de meio ambiente, segurança, entre outras — que precisam ser resolvidas. Eleger alguém que não tumultua com falas ensandecidas ajuda. Mas o ideal é que o próximo presidente também governe de verdade, tomando decisões e contrariando interesses, quando necessário. Com um discurso equilibrado, sim, mas ações firmes. Até aqui, Pacheco tem jogado parado.
Publicado em VEJA de 1 de dezembro de 2021, edição nº 2766