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Os planos do centro para definir uma candidatura alternativa para 2022

O prazo para a definição da estratégia é de seis meses. Caso Bolsonaro faça mesmo as reformas, será dificultada

Por Daniel Pereira Atualizado em 4 jun 2024, 14h34 - Publicado em 6 nov 2020, 06h00

Desde o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, o DEM só lançou candidato ao cargo em 1989, quando ainda era chamado de PFL e ficou na nona colocação. Nas votações seguintes, o partido sempre atuou como satélite do PSDB. Em 1994, 1998, 2002 e 2006, indicou o vice nas chapas encabeçadas pelos tucanos. Em 2014 e 2018, apenas fez parte, ao lado de outras siglas, da coligação capitaneada pelo parceiro de longa data. Os tempos mudaram, e agora o DEM trabalha num projeto diferente — e bem mais ambicioso. A prioridade da legenda para 2022 é se empenhar na eventual candidatura presidencial do apresentador de TV e empresário Luciano Huck. No roteiro dos sonhos dos líderes do partido, Huck se filiaria ao DEM para concorrer. Mesmo que isso não ocorra, a tendência é que ele receba o apoio dos “democratas” desde que construa uma candidatura de centro, capaz de implodir a polarização entre o presidente Bolsonaro, que tentará a reeleição, e o ex-presidente Lula, que espera reverter a sua inelegibilidade na Justiça. Pelo menos por enquanto, os tucanos são tratados como mera alternativa caso o plano principal naufrague.

Uma das principais pontes do DEM com Huck é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Os dois chegaram ao entendimento de que só decidirão os rumos que o partido e o empresário tomarão no fim do primeiro trimestre de 2021. Entre março e abril, espera-se que Huck finalmente informe se disputará a sucessão presidencial e, ato contínuo, passe a se posicionar mais abertamente como candidato e a construir sua candidatura, o que requer, entre outras coisas, intensificar as conversas com partidos, empresários e investidores. Esse prazo de cerca de seis meses não foi estipulado à toa. A candidatura de centro sonhada pelo DEM se ampara, principalmente, numa agenda liberal na economia, algo que Bolsonaro diz defender no discurso, mas pelo qual não se empenha de corpo e alma na prática. O apelo eleitoral dessa agenda liberal será maior ou menor a depender das decisões que o governo tomará nos próximos meses sobre a renovação do auxílio emergencial e outros temas com impacto direto nas contas públicas. Chefiada pelo ministro Paulo Guedes, a equipe econômica tenta encontrar uma fonte de recursos para custear a prorrogação do auxílio, que deu popularidade a Bolsonaro, mas não conseguiu até agora.

Diante desse impasse, ministros e parlamentares do chamado Centrão, convertidos na base de apoio ao presidente no Congresso, pressionam para a adoção de soluções que, na prática, podem resultar no desrespeito ao teto de gastos públicos. Se a alternativa “fura-teto” prevalecer, o DEM considera que a crise econômica se agravará e a sua candidatura de centro ganhará musculatura. “Os próximos seis meses do governo Bolsonaro serão decisivos para o futuro. É o período em que saberemos qual caminho ele seguirá. Se seguir o caminho correto, sem soluções heterodoxas, ele encurtará o espaço para a candidatura de centro”, diz Rodrigo Maia. “A minha avaliação é que o governo ficará numa situação muito ruim nos últimos dois anos se achar que a travessia mais fácil é pegar um atalho. Os gastos que a Dilma implementou eram populares. Deu no que deu. Ela ganhou em 2014 e explodiu em 2015 e 2016”, acrescenta. No DEM, há a avaliação de que a situação econômica é grave, como mostram os dados sobre desemprego e inflação dos alimentos. Uma eventual prorrogação do auxílio emergencial, com ou sem respeito ao teto de gastos, poderia ter seu efeito neutralizado pela carestia do custo de vida e pela redução da renda.

NA MESMA RAIA - Luciano Huck e João Doria: opções para enfrentar Bolsonaro -
NA MESMA RAIA - Luciano Huck e João Doria: opções para enfrentar Bolsonaro – (Paulo Lopes/Agência O Globo)

É justamente aí que entra outro indicador importante para a esperada definição de Luciano Huck: a popularidade do presidente depois de vencidos os tais seis meses de espera. Em tese: quanto maior a popularidade de Bolsonaro, menor a chance de o apresentador se lançar numa aventura eleitoral, que lhe traria prejuízos, inclusive, financeiros. Apesar de hoje comandar a Câmara e o Senado, o DEM é um partido de políticos com poucos votos. A possibilidade de uma candidatura presidencial própria, considerando seus quadros atuais, é praticamente nula. Como em política o ideal é jogar com várias cartas nas mangas, a sigla mantém conversas com o PSDB e o PDT. Os tucanos tendem a lançar o governador de São Paulo, João Doria, ao Planalto. O nome dos pedetistas é o do eterno presidenciável e piromaníaco Ciro Gomes. Em ambos os casos, deve ser construída uma candidatura mais ao centro. A diferença é que uma delas com o pé na direita e a outra com o pé na esquerda. O DEM sonha em não ter de fazer essa escolha. Quer porque quer Huck na urna.

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Cortejado, o apresentador também se move nesse sentido. No Twitter, rede social em que tem 13 milhões de seguidores, ele palpita sobre quase todos os assuntos da agenda nacional. Na terça-feira 3, Huck tratou indiretamente do caso do “estupro culposo” da influenciadora digital Mariana Ferrer (veja matéria na pág. 60): “Nós, homens, temos de evoluir e ajudar a desconstruir o machismo estrutural. Temos de educar nossos filhos c/ muito cuidado pra que meninos se tornem homens que respeitam as mulheres. Homens que saibam que o lugar das mulheres é onde elas quiserem estar. E que não, é não. Sempre”. Já na semana passada, ele abordou da crise relacionada à Amazônia ao combate dos privilégios. Huck, como se vê, está movimentando algumas peças no tabuleiro. A dúvida é se entrará no jogo para valer.

Publicado em VEJA de 11 de novembro de 2020, edição nº 2712

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