O trunfo de um ministro do Tribunal de Contas da União junto a Lula
Aroldo Cedraz é relator da auditoria que fiscaliza o uso dos cartões corporativos do governo, antiga fonte de dor de cabeça das administrações petistas
Tidos como uma usina de potenciais escândalos, os cartões corporativos do governo federal têm, presidente após presidente, as despesas escrutinadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Reúnem um conjunto de gastos teoricamente emergenciais, mas o selo de confidencialidade de boa parte dos custos e suspeitas de que o expediente estava sendo utilizado para fins privados já levaram o Senado a abrir, em 2008, durante o segundo mandato do presidente Lula, uma CPI para apurar dispêndios com esse meio de pagamento.
De olho neste histórico, o ministro Aroldo Cedraz, que relata no TCU a atual auditoria que verifica os gastos dos cartões corporativos dos primeiros anos do atual mandato do petista, tem um trunfo na manga. O nome de Cedraz passou a ser considerado para uma aposentadoria antecipada do tribunal – oficialmente ele seria obrigado a deixar a Corte apenas em 2026, aos 75 anos da idade – nas costuras que tentam arregimentar o maior número de apoios para que o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) seja eleito sucessor de Arthur Lira na Presidência da Câmara.
Interlocutores do tribunal dizem que o ministro concordaria em antecipar em mais de um ano sua saída compulsória em troca da nomeação para uma embaixada ou organismo internacional e é neste contexto que a relatoria dos cartões tem alguma valia. Cabe a Cedraz decidir quando e eventualmente em que momento político o tema será discutido abertamente pelo Plenário.
A partir do próximo ano, é possível que não caiba mais a Cedraz ser o relator do tema. “O eventual poder de barganha dele para negociar um cargo no exterior, por exemplo, só vale se ele concordar em antecipar a aposentadoria”, afirma um interlocutor do tribunal. Se ficar até 2027 e perder a relatoria dos cartões no próximo ano, o trunfo se esvai.
Na nova configuração de verificação do TCU sobre os chamados cartões de pagamento do governo federal, as auditorias são realizadas de forma contínua, o que permite que o Executivo saiba praticamente em tempo real onde o tribunal detectou problemas e conserte a eventual ilegalidade para os meses seguintes.
É um senhor respiro para um governo que, em mandatos anteriores de Lula, enfrentou desgastes depois que um ministro comprou uma tapioca e viajou com a família utilizando o cartão e que uma ministra pediu demissão após usar o meio de pagamento em um free shop e em locadoras de veículos.